Uma notícia que vem chacoalhando o mercado mundial de café nos últimos dias é a suposta saída da Colômbia da Bolsa de Nova York (ICE Futures US). Apesar das especulações que circulam nas redes sociais, a Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia (FNC) ainda não soltou nenhuma informação que comprove a ação. Apesar disso, produtores brasileiros já estão se perguntando se o mercado cafeeiro no geral sofrerá alguma consequência com essa saída.

Para o analista de mercado do Escritório Carvalhaes, Eduardo Carvalhaes, ainda não é possível responder essa pergunta. “Não sabemos ainda como a Colômbia irá proceder e nem como venderá seu café. É uma decisão isolada e sem precedentes”, afirmou.

Ele ainda ressaltou que é impossível sabermos qual será o posicionamento dos grandes compradores de café (um setor bastante concentrado e capitalizado) e por quanto tempo os colombianos conseguirão ficar fora do mercado. “Também não é possível prever o comportamento de fundos e especuladores, com seus programas lastreados em algoritmos e inteligência artificial, nas bolsas de futuro”, completou.

Não são apenas os cafeicultores colombianos que sofrem com os preços precários ofertados pelas sacas de café. Aqui no Brasil, muitos produtores reclamam do atual cenário e da margem de lucro negativa. Os baixos preços não eram registrados há pelo menos cinco anos e não pagam os custos mínimos de produção.

Segundo levantamento feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os preços de comercialização do café arábica estavam em R$ 398 por saca de 60 kg, mas os custos que os produtores estavam tendo na produção do grão estavam em uma média de R$ 428. Isso significa um prejuízo de R$ 30 por saca, fazendo com que os cafeicultores fechem no vermelho.

“Os custos chegam a oscilar entre R$ 347 e R$ 510, dependendo da tecnologia”, explicou Maciel Silva, assessor técnico da Comissão Nacional de Café da CNA. Segundo ele, a Confederação já está em contato com o Governo para resolução desses problemas no setor.

Sobre isso, Carvalhaes comenta que o Conselho Nacional do Café (CNC) e a CNA têm se reunido em busca de um caminho viável para conter a pressão sobre os preços do café verde, mas que ainda não divulgaram nenhuma decisão. “Circulou que estão estudando propor ao Governo Federal leilões de opções de venda. Dependendo das regras adotadas, poderiam dar sustentação aos preços na entrada da nova safra. Resta saber se seria viável ao Governo, no atual momento de nossa economia, reservar dinheiro para formação de estoque de café”, disse.

Além dos preços, outro fator que requer atenção é o clima nas regiões cafeeiras. Além dessa safra ser de bienalidade negativa, resultando naturalmente em uma colheita menor, os produtores têm sofrido com a seca da segunda quinzena de dezembro e janeiro. “Ainda não é possível sabermos o tamanho das perdas”, comentou Carvalhaes.

Ele comenta que a safra brasileira 2019/2020 deverá ficar abaixo do projetado na primeira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mas que só será possível saber quanto após a colheita e o levantamento da renda no benefício. “A qualidade média da safra também deverá ser inferior ao da atual safra 2018/2019”, completou.

Mesmo com os problemas enfrentados atualmente, o analista chama a atenção para o fato do café estar em sua melhor fase. “Sua imagem nunca foi tão positiva junto aos consumidores de todas as idades como está agora. O consumo de café cresce ano após ano e os jovens aderiram à bebida em todo o mundo, ao ponto de grandes cadeias de fast food e grandes indústrias de refrigerante se verem obrigadas a aderirem ao produto”, explicou.  Ele ressalta que os cafés especiais agora são explorados por grandes grupos, como a Starbucks e a Nespresso, e tem tido boa aceitação em mercados como o da Ásia.

Para Carvalhaes, apesar da ascensão no consumo, produtores em todo o mundo estão cobertos de incertezas e riscos. “A crise que vivemos é apenas nos preços da matéria prima, do café verde. Os cafeicultores recebem a cada ano uma fatia menor da imensa e crescente riqueza gerada pelos negócios do café”.