O Brasil foi muito eficiente na produção de café nas últimas duas décadas. A produção brasileira aumentou mais de 50% nos últimos 15 anos e a participação do Brasil no mercado mundial passou de 22 a 33%. Entretanto há desafios para reter e aumentar esta participação, como explicaremos abaixo.

1. Adaptação e resiliência a mudanças climáticas
A mitigação de efeitos de mudança climática é necessária porque o Brasil perdeu entre 22 a 24 milhões de sacas de produção devido às secas dos últimos três anos. Isto equivale à metade da produção do país ou às safras médias da Colômbia e Indonésia juntas. Além disto, chuvas intempestivas durante a colheita causaram perdas de qualidade do arábica este ano.

2. Mecanização da colheita e de outras atividades em áreas de montanha
A mecanização das áreas de montanha é necessária e devemos promover o desenvolvimento de equipamentos para tanto e de novos sistemas de plantio como, por exemplo, o terraceamento, além de outras inciativas. A mão-de-obra é cara no Brasil em relação aos outros países produtores: salários mais altos somados aos benefícios sociais, fornecimento de EPI e outros itens relacionados ao bem estar do trabalhador. A mão-de-obra pode representar 60% dos custos diretos de produção em áreas de montanha e apenas 30% nas áreas de café planas mecanizadas.


3. Aumento da eficiência dos serviços de extensão para apoiar pequenos produtores e implantar boas práticas de agricultura sustentável
O aumento da produtividade e sustentabilidade do pequeno cafeicultor é crítica porque eles são 80% dos produtores e respondem por 35% da produção. As ilhas de ineficiência no Brasil estão muito mais associadas com o tamanho do produtor que com área geográfica.


4. Mais recursos e foco em pesquisa
Mais dinheiro para pesquisa é necessário para ser usado com foco prioritário em mitigação da mudança climática e mecanização da cafeicultura de montanha, desafios 1 e 2 mencionados acima.


5. Marketing e agregação de valor.
Finalmente, mas não menos importante, marketing e agregação de valor devem ser intensificados porque o Brasil aumentou a qualidade e sustentabilidade de seus cafés mas os preços e prêmios de preço não melhoraram proporcionalmente.


Alguns ou talvez todos estes desafios não são novos e já há histórias de sucesso em enfrentá-los. Entretanto as melhores histórias de sucesso têm a ver com as três “revoluções” por que o agronegócio café brasileiro passou: produtividade, sustentabilidade e qualidade.

A produtividade média brasileira passou de 14 para 25 sacas por hectare em quinze anos como resultado de pesquisa, transferência de tecnologia e a criação de um ambiente negocial favorável: financiamento, mercados eficientes para insumos e equipamentos e uma cadeia produtiva eficiente. A produtividade aumentou sem crescimento da área plantada que, na verdade, diminuiu.

Isto é sustentabilidade em sua essência porque terras produtivas não foram subtraídas da produção de alimentos - grãos ou proteína animal - ou de florestas nativas. O Brasil é hoje a principal fonte mundial de cafés sustentáveis, com mais de 25 milhões de sacas verificadas ou certificadas como tal a cada ano, e cerca de 7 milhões de sacas de café sustentável exportadas em 2015.

A qualidade vem em seguida. Puxado pelo setor de cafés especiais, o Brasil melhorou a qualidade de seus cafés substancialmente, com grande aumento da produção de cafés especiais – 6 a 8 milhões de sacas por ano – e grandes avanços na área de cafés diferenciados, que já representam 30% das exportações totais de café.

Tudo isto é completado por uma cadeia produtiva eficiente que transmite 85 a 90% do valor FOB de exportação ao produtor.