Trajetória do Café

A HORA DO CAFÉ

Durante quase vinte anos, ou, para ser mais preciso, de 1971 (quando foi eliminado o subsídio do café ao consumidor) a 1987, a maior preocupação do setor cafeeiro como um todo, mas principalmente da indústria brasileira de café, foi a queda do consumo interno do produto. Em 1970, com uma população de 90 milhões de habitantes, o Brasil consumiu 8,8 milhões de sacas, ou seja, 4,7 kg "per-capita". Em 1986, uma população estimada em 135 milhões de habitantes consumiu 6,5 milhões de sacas, ou seja, 2,3 kg "per-capita". O consumo "per-capita" caiu para menos da metade.

A situação era muito clara: se mantida a tendência, se nada fosse feito, o futuro da indústria brasileira de café não era duvidoso. Era certa a sua extinção, por falta de consumidores. O Brasil perderia o principal mercado para o café por ele produzido.

Felizmente hoje constatamos um quadro bem diferente daquele.

O programa do SELO DE PUREZA, inédita experiência de autofiscalização na área de alimentos, lançado pela ABIC em 1988, foi totalmente vitorioso nos seus três objetivos básicos:

a) Resgate da credibilidade do produto, até então desmoralizado, pela baixíssima qualidade de um razoável número de marcas;
b) Recuperação do respeito ao industrial do café, prejudicado pela injusta generalização do que uma pequena parcela do setor praticava;
c) Reversão da tendência de consumo, passando de decrescente a crescente.

Em 15 anos o consumo anual do país saltou de 6,5 milhões de sacas para quase 14 milhões, sendo caso de destaque na história da Organização Internacional do Café (O.I.C.).

Paralelamente a esta vitoriosa experiência do SELO DE PUREZA, muitas outras coisas aconteceram ou estão acontecendo na área do café:

- Foi extinto o tabelamento de preços, permitindo à indústria planejar melhor e ter coragem de investir;

- A mídia feita na divulgação do SELO e a participação da ABIC em grande número de eventos setoriais e abertos ao público conseguiram reverter a cultura de que "café é tudo igual", mostrando aos varejistas e consumidores que existe uma grande variedade de tipos e espécies de café, cada uma com seu preço correspondente;

- Vários estudos médicos foram feitos e divulgados, mudando totalmente o conceito do produto. De vilão, que fazia mal para quase tudo, passou a mocinho, que além de não ser nocivo como parecia, oferece muitos pontos positivos para a saúde, inclusive para crianças;

- Foi criado internacionalmente o nicho de "cafés especiais" com altos índices de crescimento também no Brasil;

- Milhares de cafeterias foram abertas em todo o Brasil;

- Os supermercados e as "delikatessen" estão dando mais espaço e destaque ao produto;

A soma dos itens acima e de outros como cursos de preparação, "clubes gourmets" e vários outros não lembrados, fez com que o café, depois de quase três séculos no Brasil, se tornasse "moda". Nunca o café esteve em tanta evidência como agora. Não há um dia sequer que não saia na mídia alguma notícia a respeito.

Para somar a todo esse cenário favorável, tivemos recentemente o lançamento do SELO DE QUALIDADE DA ABIC, que com o tempo talvez se torne ainda mais revolucionário que o Selo de Pureza, trazendo novo contingente de apreciadores e "curtidores" da bebida, como aconteceu com o vinho aqui mesmo no Brasil.

Diante de toda essa trajetória pela qual passou a indústria de torrefação e moagem de café, na minha opinião, chegou finalmente "A Hora do Café". Não tenho nenhuma dúvida em afirmar que o consumo do nosso tradicional "cafezinho" só tem a crescer. O que parecia impossível até pouco tempo atrás já pode ser vislumbrado a médio prazo: além de maior produtor, o Brasil passará a ser também o país que mais consome café no mundo.

Autoria:

Carlos Barcelos Costa
Café Minas Rio Ltda.
Diretor - Fundador do Sindicafé-MG
Conselheiro Efetivo da ABIC