O abortamento de frutinhos e de rosetas inteiras em ramos de cafeeiros pode ser provocado por déficit hídrico prolongado, conforme foi observado recentemente em lavouras na Chapada Diamantina, na Bahia.

O pegamento da florada, ou seja, a transformação de flores em frutos, sempre foi um fator chave influenciando a produtividade de cafeeiros. Sabe-se que o cafeeiro tem floração profusa, ou seja, floresce muito, mais do que pode suportar depois quando crescem os frutos. Embora ocorram perdas de chumbinhos pelo descarte de forma normal, a manutenção de condições favoráveis ao vingamento da frutificação deve ser perseguida, visando reduzir as perdas anormais.

Alguns fatores que influem no pegamento da florada em cafeeiros já foram bem estudados, citando-se a importância do bom enfolhamento das plantas como condição essencial para garantir as reservas necessárias à boa frutificação. Também se conhece o efeito favorável da proteção da florada do ataque de fungos, especialmente nas zonas mais frias e úmidas.

Uma causa agora identificada como responsável por abortamento de frutinhos de cafeeiros nas rosetas é a falta de umidade no solo ou o stress hídrico prolongado. O problema de abortamento foi constatado em lavoura onde, após passar 4-5 meses sob stress hídrico, ocorreu uma chuva de 10 mm em meados de outubro, abrindo a florada e novamente sofreu com stress, pois houve nova chuva somente de 10 mm, em meados de novembro e no final deste mês, ai sim vieram chuvas de cerca de 100 mm. Os frutinhos novos nas rosetas apareceram de cor negra, secos, desde o pedunculo, 30-40 dias após a florada.

Analisando-se a condição na lavoura, verificou-se que o processo de abortamento aconteceu pelo fato da seca, num primeiro momento, ter provocado a perda de folhas dos ramos produtivos, em muitos deles até o ultimo par. Então, como consequência, o ramo sem estas folhas terminais ficou sem a “bomba” que puxa a água, pelo efeito da transpiração, e os frutinhos não foram hidratados, acabando por secar, muitas vezes, tomando toda a roseta. Nesse caso verificou-se que o problema do abortamento ocorreu mais na parte terminal dos ramos produtivos e também mais em plantas novas e na parte superior das plantas. Tudo isso em conjunto dá a pista para que se chegue à causa do abortamento – a desidratação das frutificações novas.

É oportuno destacar que causas outras de abortamento, como o ataque de Phoma/Ascochyta, foram descartadas, pois não ocorreram na área condições de umidade que favoreceriam a doença. Também o fato do abortamento ter ocorrido em plantas mais jovens, na 1ª e 2ª safra, e havendo outras lavouras velhas sem o problema na mesma área descarta a hipótese de doença.