Estiagem causa perdas à safra que podem ser agravadas pela praga. Ministério da Agricultura decreta estado de emergência sanitária para Minas Gerais para evitar que a infestação fique incontrolável

Primeiro, a seca atingiu as lavouras de café em Minas e os grãos não conseguiram se desenvolver direito. Ficaram chochos e as perdas para a safra deste ano e para o próximo já estão certas. Agora veio mais um golpe para a produção. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) decretou, na semana passada, estado de emergência fitossanitária para a produção cafeeira do estado. A Portaria 188 foi publicada no Diário Oficial da União na quinta-feira e trata do risco iminente da infestação pela praga Hypothenemus hampei, conhecida como broca-do-café, e que já representou muitos problemas aos produtores

Segundo o diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e presidente das comissões de cafeicultura da entidade e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CAN), Breno Mesquita, o decreto derruba obstáculos burocráticos na adoção de medidas emergenciais e na busca por alternativas de médio e longo prazos para o problema. “A praga ganhou força após a proibição do Endolsufan, única substância eficiente para o controle. O estado de emergência retira uma série de entraves na busca por outros produtos que o substituam”, explica.

Breno Mesquita diz ainda que a broca-do-café certamente afetará o volume e a qualidade da produção. “O tamanho real desse impacto, assim como dos danos causados pela seca, só saberemos no momento do beneficiamento dos grãos, que ocorre a partir de julho. Só então teremos a extensão da quebra, que já é uma realidade confirmada.” 

O diretor da Faemg lembra que, neste primeiro momento, apenas Minas Gerais foi beneficiado pelo decreto, mas outros estados também estão sofrendo o mesmo problema. “É fundamental que a questão seja tratada com seriedade e grande rapidez. É um produto de grande peso na economia mineira, com fortes reflexos na balança do estado. Das lavouras mineiras sai metade da produção brasileira e cerca de um quinto de todo o café mundial”, destaca.

Segundo o Ministério da Agricultura, o estado de emergência deve vigorar por um ano, período em que devem ser adotadas medidas emergenciais para controle contra a infestação. Para evitar que seja perdido o controle sobre os ataques da broca-do-café, o Mapa fará uma ação de contingência que envolve um plano de manejo e medidas emergenciais, que serão estabelecidas em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). “A broca-do-café é uma praga de produção e de qualidade, diminui a produtividade e piora a qualidade na exportação do café. Não pode voltar a ser uma praga de importância no Brasil”, afirma o diretor de Sanidade Vegetal do ministério, Luis Rangel.

CRISE ANUNCIADA O problema da broca já vinha preocupando os cafeicultores desde o fim do ano passado. Em encontro da cafeicultura promovido em Guaxupé, em novembro, para intercâmbio entre pesquisadores da Epamig, técnicos e cafeicultores associados à Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), o tema já foi discutido e a preocupação era uma realidade.

O pesquisador Júlio César de Souza alertou sobre o problema. “A partir da proibição, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do inseticida Endosulfan para controle da broca, o produtor deve redobrar o monitoramento da lavoura, utilizando uma planilha específica, para evitar prejuízos que podem chegar à perda de 20% do grão”, explicou, durante o evento. Segundo Júlio, dois novos produtos já foram testados e aprovados, mas ainda não tinham obtido registro no Mapa. Ele disse que são produtos com a mesma eficácia do Endosulfan, de baixa toxicidade e que apresentaram seletividade a espécies de ácaros predadores (inimigos naturais). Entretanto, não estão disponíveis para a safra de café 2013/2014.