Com o avanço da colheita de café conilon nos principais polos produtoras do país, a aposta na safra recorde estimada pela
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) perdeu força. Mas a perspectiva é de colheita farta, para consolidar a
recuperação observada no ciclo passado depois das perdas de 2015/16 e 2016/17, provocadas por estiagens.

A segunda estimativa da Conab, divulgada neste mês, indicou uma produção de 13,9 milhões de sacas de 60 quilos em 2019/20, 1,7% menor que o recorde de 2018/19, quando o país colheu 14,2 milhões de sacas – 23% da safra brasileira total de café, que somou 61,6 milhões de sacas. A projeção anterior da estatal, de fevereiro, sinalizava entre 14,3 milhões e 16,3 milhões de sacas.

No Espírito Santo, principal Estado produtor da variedade, 5% da área já foi colhida. Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a safra estadual deve ficar entre 9 milhões e 9,5 milhões de sacas – em linha com a estimativa mais recente da Conab e abaixo do recorde de 9,9 milhões de sacas de 2014/15.

“A produção do Estado não deve ser recorde como se esperava, mas ainda assim será maior que a passada, quando foram colhidas 9 milhões de sacas”, afirma Abraão Carlos Verdin, pesquisador do Incaper. Segundo Verdin, o ajuste pra baixo se deve ao clima. Até o fim de dezembro, as condições estavam favoráveis à cultura, com as lavouras bem nutridas e boa recuperação após a queda de produção em 2016, o que embasava a expectativa de aumento de produtividade. “Passada a primeira semana de janeiro, porém, tivemos 40 dias sem chuva e com temperatura mais elevadas que o normal, o que afetou a cultura”.

Embora a colheita esteja no início, Verdin destaca que já é possível perceber a redução do tamanho dos grãos – o que faz com que um volume maior seja necessário para completar uma saca de 60 quilos. “Isso deverá influenciar também a produção de 2020”, diz.

Se na produção nacional não haverá recorde, nos armazéns da Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel
(Cooabriel), de São Gabriel da Palha (ES), maior cooperativa de café conilon do país, haverá Com 15% da área colhida,
a Cooabriel deve receber 1,4 milhão se sacas neste ano. Menos que as 1,6 milhão inicialmente estimadas, mas acima do
recorde de 2018/19 (1,2 milhão).

“É o ano da recuperação”, disse Edimilson Calegari, gerente corporativo de café da cooperativa. Segundo ele, os produtores começaram a trocar as áreas mais íngremes por regiões planas, onde a colheita pode ser mecanizada. “Além disso, há cafeeiros novos que vão entrar em produção e que fazem parte de um trabalho de melhoria da genética das plantas que vem sendo feito com o uso de clones mais produtivos”.

A Cooabriel tem 4,6 mil associados no Espírito Santo e na Bahia. Ainda que a perspectiva seja positiva, os cafeicultores da região de atuação da cooperativa também tiveram dificuldades com o calor nos três primeiros meses do ano, críticos para a formação do grão.

Em Rondônia, a perspectiva também é de safra farta. O Estado apostou no café robusta – que, assim como o conilon, pertence à espécie coffea canephora – e tem registrado aumento na produção ano a ano. Originário do Congo, o
robusta é uma variedade mais alta e viçosa, que se adaptou melhor à região do que o conilon, originário da Guiné.

De acordo com Janderson Dalazeno, engenheiro agrônomo da Empresa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater-RO), a produção deverá alcançar entre 2,2 milhões e 2,3 milhões de sacas em Rondônia em 2019/20, ante 1,9 milhão no ciclo passado. A última vez que o patamar de 2 milhões de sacas foi superado no Estado foi em 2003 (2,5
milhões de sacas).

“Ao contrário de outras regiões produtoras, tivemos boas chuvas”, explica Dalazeno. Segundo ele, as chuvas foram tão abundantes que atrasaram a colheita. Os trabalhos costumam começar em abril e terminar no começo de junho, mas devem avançar pelo mês adentro. A área já colhida alcança entre 60% a 70% do total de 62,7 mil hectares.

A produtividade na região deverá subir pra 37 sacas por hectare nesta safra, ante 34 em 2018/19. Nas contas da Conab, serão 34 sacas, 9,3% mais que no ciclo anterior. “Todos os anos temos novas lavouras entrando em produção, com casos de produtividades que beiram as 130 sacas por hectare”, destacou.

Para ele, o diferencial do Estado é investir em um café de qualidade e apostar no robusta – como o Vietnã, segundo maior produtor de café do mundo, líder na espécie. Mas se volume e qualidade motivam otimismo, os preços preocupam, como no arábica. Em de Londres, as cotações caíram 35% desde o início de 2017.