O preço mínimo do café arábica foi reajustado para R$ 333,03 por saca de 60 quilos, na última semana, pelo governo federal. O aumento foi de apenas 0,84% ou R$ 2,79 em relação ao valor anterior, que era de R$ 330,24. O reajuste não agradou o setor cafeeiro, que estima um custo de produção acima de R$ 400 por saca de 60 quilos em todos os sistemas produtivos, inclusive no mecanizado, que é mais competitivo. O valor baixo é um risco para a cafeicultura, já que serve de referência para os programas de subvenção ao produtor quando ocorre forte queda na cotação do café no mercado.

O diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e presidente das comissões de Cafeicultura da Faemg e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, explica que o preço mínimo do café foi criado para que, em casos de necessidade, ele seja utilizado como parâmetro para a formulação de políticas públicas, mas o valor estipulado pelo governo não retrata a realidade do setor.

“A CNA, há alguns anos, vem fazendo um levantamento anual de toda a cafeicultura nacional, coletando dados dos principais estados produtores. O que percebemos é que o
custo de produção em qualquer sistema, mesmo o mais competitivo, está muito mais caro que o valor definido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pelo Ministério da Fazenda. Esse reajuste é uma brincadeira de mau gosto porque isso não espelha a situação de custo efetivo da cafeicultura brasileira”, explicou Mesquita.

Ainda conforme Mesquita, anualmente, os dados levantados e a metodologia utilizada pela CNA para calcular os custos de produção nacional de café são apresentados aos representantes do Mapa, Conab, Embrapa, Ministério da Fazenda e Conselho Nacional do Café. Historicamente, os dados são aprovados.

“A validação é uma afirmação cabal de que nossos números não são diferentes da realidade da cafeicultura brasileira. Então, se os números não são diferentes e são validados, porque não são usados para definir o preço mínimo? A CNA investe neste levantamento de custo para confrontar com os dados da Conab e para que o preço mínimo seja o mais real possível. Terminando os estudos para 2017, vamos convidar todas estas entidades para discutirmos os nossos números e onde está a diferença”.

No ano passado, os custos para produzir uma saca de 60 quilos de café, na média nacional, estavam acima de R$ 400, valor que deve ser reajustado no novo levantamento da CNA a ser concluído nas próximas semanas. Em casos de queda nos preços de mercado, todas as políticas voltadas para o setor terão como base o valor de R$ 333,03 por saca, bem abaixo do estimado pelo setor cafeeiro.

Incoerência - Em nota divulgada para a imprensa, o presidente executivo do Conselho Nacional do Café, Silas Brasileiro, explica que, ao longo dos últimos meses, o CNC se reuniu três vezes com o governo federal para discutir o assunto. Em duas audiências no Mapa e em uma na Conab, foi apontado que o estudo desenvolvido pela estatal possuía incoerências com a realidade do campo, o que impactaria de forma negativa e diretamente no estabelecimento dos preços mínimos para o café na safra 2017.

Entre os pontos questionados pelo representante da cafeicultura estão os dados da Conab que mostram que no sistema mecanizado de produção do Sul de Minas Gerais e de São Paulo – que possuem significativa participação na produção nacional – foi verificada forte retração das despesas com operações de máquinas, entre novembro de 2015 e novembro de 2016.

A informação, segundo Brasileiro, destoa completamente do que o CNC identificou junto aos associados, que relataram aumento dos custos da hora/máquina suportado pelo produtor e da manutenção de máquinas e equipamentos próprios, pelos altos custos de peças, além do aumento do combustível.

“Manteremos nossos contatos e as negociações com o governo federal para que, de fato, diferente do ocorrido nas últimas safras, a realidade da cafeicultura seja considerada nos trabalhos da Conab e passemos a ter preços mínimos mais condizentes com a verdade dos custos de produção da atividade, o que permitirá termos valores de referência para programas de subvenção aos produtores nos momentos em que ocorra uma forte queda nas cotações praticadas no mercado”, disse Brasileiro.