Desenvolvido em fazendas na Nicarágua, em Honduras e na Guatemala, o projeto The Energy from Coffee Wastewater agora será implementado no Brasil e no Peru. A partir de sistemas de tratamento da água de reuso e de tratamento de resíduos sólidos, fazendas de vários portes obtiveram até 50% de redução na quantidade de água utilizada durante o processamento de café – e passaram a gerar energia para os moinhos e para as residências a partir de biomassa, reduzindo também o descarte de resíduos, como as cascas do grão.

O café é a segunda mercadoria mais valiosa do mundo. Em 2010, seu consumo atingiu a marca de 8 bilhões de kg. O efeito colateral da sua produção, no entanto, ainda não é considerado no custo final do produto. O beneficiamento do grão gasta muitos e muitos litros de água para separar o fruto da semente: são necessários 140 litros para processar os grãos que rendem uma única xícara. Essa água, carregada de resíduos orgânicos, é descartada sem qualquer tratamento e polui bacias, rios e águas subterrâneas potáveis. As águas residuais do café também geram uma quantidade considerável de gases de efeito estufa, como o metano. A fauna e a flora da região também podem ser afetadas, inclusive a vida marinha, em caso de plantações próximas às zonas costeiras.

Para reduzir os danos, a UTZ Certified, um escritório de certificação internacional para agricultura sustentável, implementou o projeto piloto em 19 fazendas da Nicarágua, de Honduras e da Guatemala. A água carregada de resíduos orgânicos do café passa por um processo de decomposição anaeróbica em biodigestores, que transformam a matéria orgânica contida na água em biogás. Este gás vem sendo utilizado para cozinhar, substituindo a lenha e evitando o desmatamento. Em fazendas maiores, o biogás pode virar combustível para máquinas, bombas de água e também é destinado ao processo de secagem de grãos do café.

As medidas reduzem consideravelmente a emissão de gases de efeito estufa. A água tratada pode ser devolvida sem prejudicar o meio ambiente ou ainda ser reutilizada na produção do café. As fazendas que adotaram o sistema economizaram até metade da água antes utilizada durante o beneficiamento do grão.

A América Latina produz 70% de todo o café consumido no mundo e guarda 31% da água doce disponível no planeta. Além de proteger o meio ambiente e a água doce da região, a iniciativa pode ajudar a levar energia para sete milhões de pessoas que ainda têm pouco ou nenhum acesso a eletricidade na América Latina.

A produção de café envolve mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo, mas os efeitos das mudanças climáticas tornam seu futuro imprevisível. O café é uma cultura degradante, mas o café sustentável traz benefícios diretos e imediatos. E pode ser a solução para transformar potenciais poluentes em oportunidades de negócio.