Por Ulisses Ferreira

A cafeicultura é responsável pela geração de emprego, renda e desenvolvimento em diversas cidades brasileiras e sem dúvida foi por muitos anos uma das principais alavancas para o crescimento econômico e social do Brasil. Mas no País que mais produz café e que é o segundo maior consumidor de cafés no mundo, o fruto não é capaz de remunerar de forma justa todos aqueles que participam dessa importante cadeia produtiva.

É fato que a produção de café tem se transformado de forma acelerada com a entrada de novas tecnologias e maquinários, a expansão de novas áreas, a pesquisa e a assistência técnica, o que resultou em um salto tecnológico que impacta todos aqueles que cultivam o produto, proporcionando aumento na produção, produtividade e qualidade. Porém, essa evolução muitas vezes é aproveitada apenas por agentes externos a atividade produtiva.

Produzir e consumir café deveriam ser os principais negócios, ou seja, aqueles responsáveis por movimentar todo o bilionário setor cafeeiro é que deveriam ser beneficiados pelos avanços tecnológicos com melhor qualidade na mesa e preços mais justos no campo. Afinal, são milhões de produtores e bilhões de consumidores no mundo todo.

Na prática isso não acontece. Em interessante artigo publicado em 2014, intitulado “Produtores, intermediários e consumidores: o enfoque da cadeia de preços”, o economista e professor da PUC SP, Ladislau Dowbor, já relatava os desequilíbrios das cadeias produtivas e a dificuldade de produtores e consumidores se conectarem em busca de maior sustentabilidade na produção e consumo.

No artigo, o professor relata a prática de intermediários “atravessadores” aqueles que lucram na cadeia produtiva sem entregar valor algum, sendo esses completamente desnecessários. No caso do café, além da existência de intermediários “atravessadores”, a grande concentração da indústria e a existência de especuladores faz com que o produtor e o consumidor sejam meros expectadores no mercado, com pouco ou nenhum poder de decisão.

Para mudar essa realidade é fundamental uma aliança entre consumidores e produtores em busca de maior sustentabilidade e justiça. A força de bilhões de consumidores conscientes e a união de produtores éticos e responsáveis é a única alternativa para modificar o cenário de crise de preços pagos ao produtor e entrega de produtos de qualidade duvidosa produzidos sem respeito ao meio ambiente, às pessoas e a seus fornecedores.

Neste contexto seria natural que movimentos de comércio justo ganhassem cada vez mais força, entretanto, me impressiona ver no Brasil a baixa adesão de cafeterias, micro torrefações, pesquisadores, especialistas e consumidores a este movimento.

No Brasil, temos milhares de famílias de cafeicultores buscando produzir de forma sustentável, melhorando a qualidade do produto, impulsionando o desenvolvimento da comunidade e contribuindo para a formação da próxima geração de cafeicultores, mas são raras as iniciativas de empresas que buscam conhecer e valorizar esses produtores.

A festa do café é linda. Todo ano dezenas de encontros, feiras e eventos destacam e ostentam o quão rico é o chamado ouro verde, precisamos incluir a grande massa de produtores nesta festa.