Produzimos vários tipos de café, com quantidade e qualidade, em diversas regiões, sob uma legislação ambiental e trabalhista rigorosíssima, carregando uma pesada carga tributária, enfrentando as oscilações das bolsas, contribuindo com a receita do Agronegócio, ainda, âncora da economia de nosso país.


Ao longo de décadas os integrantes da cadeia café estão fazendo sua lição de casa para atender às demandas do respeitável e exigente consumidor.

Produtores, Exportadores, Importadores, Indústrias, as Diversas Entidades de Classe Representativas e Organizações Não Governamentais, desenvolveram e implementaram os mais diversos códigos de conduta e certificações de café.

Democraticamente esses programas de origem e qualidade, possibilitam o acesso dos pequenos, médios e grandes produtores.

Os ganhos desse dinâmico trabalho são diversos:

- Para o Produtor: quanto melhor o desempenho na aplicação das boas práticas, melhor a saúde financeira (e vice versa);

- Para o Comércio: aumento das garantias limitando a possibilidade da compra de lotes de cafés com problemas;

- Para a Indústria: monitoramento com a rastreabilidade;

- Para o Consumidor: segurança alimentar;

- Para o Marketing: consumo responsável;

- Para as Comunidades: melhora do meio de vida e do ecossistema;

Contudo, isso não blinda o setor das variáveis climáticas.

Nesse momento, as indústrias de café solúvel, torrado e moído, afirmam que estão em dificuldades, estando pleiteando liberação para importar matéria prima, alegando falta de produto.

Se há ou não escassez de produto, se há ou não escassez de recursos para comprar a preço de mercado, a questão não é ser contra ou favor, o fato é que essa situação poderá ocorrer outras vezes em maior ou menor escala e nós não estamos preparados e organizados para tal decisão.

O quão danoso poderá ser essa liberação para nossa Cafeicultura? Cadê o nosso plano de contingência para esse assunto?

Qualquer decisão intempestiva, sem uma avaliação criteriosa será inoportuna e inconsequente.

Devemos aprender com as dificuldades dos produtores de leite e de cacau com relação a forma de liberação para entrada de outros fornecedores e também com a abertura do mercado no governo Collor para a importação de automóveis que trouxe competividade para o setor e os consumidores ganharam com isso.

O assunto é sério e de muita complexidade, requerendo um minucioso estudo, pesquisas, focado, amplo e independente, desenvolvido e estruturado por especialistas, para que possamos exercitar os possíveis cenários, impactos, riscos, ameaças, vantagens competitivas e comparativas, bem como as oportunidades, estabelecendo regras e normas, definindo um planejamento estratégico sistêmico, com ações para curto, médio e longo prazo.

O momento é de união. A fase não é de lutas individuais e segmentadas mas de esforços coletivos. Um bom negócio é aquele em que os dois lados perdem: perdem o medo de ouvir, perdem as suas verdades absolutas e perdem a vontade de fazer o melhor negócio do mundo. E esse desprendimento deve permear nossas ATITUDES daqui para a frente.

Num mundo em acelerada mudança, empresas e segmentos inteiros de atividade não morrem somente por fazer algo errado e sim por fazer algo certo por um tempo longo demais. Daqui para a frente precisamos agir de maneira efêmera para continuarmos perenes. Se atuarmos de maneira perene, presos a nossas crenças e valores do passado, corremos um grande risco de ficarmos efêmeros.

Gestão nada mais é que a capacidade de dividir nosso tempo com sabedoria entre pendência e tendência. O desafio é que as pendências são tantas que elas nos afastaram das tendências. Está na hora de voltarmos a ser lideres gestores de fato e de direito, e não apenas lideres chefes de plantão. Está em nossas mãos desenhar o futuro da Cafeicultura Sustentável Brasileira que queremos. E, para isso, devemos estar não apenas abertos, mas engajados e integrados com toda cadeia café, nessa busca por novos caminhos.