Divergência nos boletins meteorológicos deixa incertezas sobre a formação do fenômeno climático nos próximos meses
Após a influência do El Niño, fenômeno climático que se caracteriza pelo aquecimento das águas superficiais no Oceano Pacífico Tropical, as previsões climáticas indicavam que a partir da primavera de 2016 o clima seria influenciado pela ocorrência da La Niña, fenômeno contrário ao El Niño, que ocorre a partir do resfriamento das águas superficiais do Pacífico.
Em tese, a La Niña traria regularidade de chuvas para algumas regiões brasileiras e seria positiva para a produção de grãos na safra 2016/2017. Porém, nos últimos meses, as previsões variaram bastante e as expectativas de formação da La Niña, que inicialmente indicavam setembro, mudaram para outubro, depois para novembro, dezembro e chegaram até janeiro de 2017.
Agora, alguns meteorologistas já defendem que não haverá a formação da La Niña. Mesmo assim, outros profissionais da área ainda consideram a influência do fenômeno nas previsões. Um boletim atualizado pela Somar Meteorologia na terça-feira (13/09) afirma que as expectativas para uma La Niña no final de 2016 não se confirmaram. De acordo com a empresa, simulações da Universidade de Columbia e da NOAA (Agência Nacional Oceânica e Atmosférica), o resfriamento das águas do Oceano Pacífico não será intenso o suficiente, ou seja, de – 0,5°C durante seis meses, para configurar o fenômeno.
Por outro lado, a empresa Climatempo continua considerando a formação do La Niña em suas previsões. Segundo a previsão mais recente da Climatempo, de 12/09, o fenômeno climático será o principal problema dos produtores no início da semeadura, atividade que começa nos próximos meses em várias regiões.
E agora? O que fazer com a incerteza sobre a La Niña?
A divergência nos boletins meteorológicos deixa incertezas sobre o que vai ocorrer. Atualmente, já não se sabe se haverá ou não a La Niña, “a menina” que ficou famosa antes mesmo de acontecer. O meteorologista da Somar, Celso Oliveira, diz que a tendência é que as previsões climáticas iniciais permaneçam as mesmas. “Apesar do fenômeno não ter se confirmado, as águas do Oceano devem permanecer frias e podem inclusive continuar atingindo temperaturas negativas. O impacto desse resfriamento é similar ao que teríamos se o La Niña tivesse se confirmado”, diz Oliveira.
Segundo ele, os efeitos deste resfriamento das águas superficiais do Pacífico serão mais sentidos a partir do verão de 2017, quando haverá aumento de precipitações no Centro-Norte. “Já o Sul do País, que passou um período bastante úmido nos últimos anos, sentirá uma diminuição nos acumulados de chuva durante este período.”
Já Alexandre Nascimento, meteorologista da Climatempo, diz que a proximidade da La Niña pode trazer novos desafios climáticos para os produtores rurais. Segundo ele, dos três principais estados produtores de soja do Brasil, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, somente o segundo não será tão afetado. “Ela [La Niña] pode interferir atrasando a chuva regular no início do plantio e trazendo chuva acima da média em março. Podemos, ainda, ter um prolongamento das precipitações no final do período úmido, o que deve influenciar negativamente a colheita”, afirma Nascimento.