Manejos simples, mudança de hábitos e qualificação da mão de obra podem melhorar a eficiência hídrica
A gestão adequada da água em uma propriedade rural contribui para uma atividade agropecuária rentável e, principalmente, sustentável. Manejos simples, mudança de hábitos e qualificação da mão de obra podem resultar em uma melhor eficiência hídrica nesse setor. A Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), tem realizado pesquisas que ajudam o produtor a fazer uma gestão hídrica mais eficiente na fazenda, o que melhora o uso deste recurso e ainda reduz os custos da produção animal.Confira algumas dicas dos pesquisadores da Embrapa.
1 – Gestão hídrica para pecuária
De acordo com o pesquisador Julio Palhares, são várias as alternativas para uma gestão da água, como irrigação noturna, captação de água da chuva, reutilização da água da lavagem das instalações pecuárias, instalação de hidrômetros, reuso de efluentes, fertirrigação, etc. O pecuarista ainda pode recorrer a outras medidas mais simples e com custos baixos para diminuir o consumo, como, por exemplo, raspagem do piso do local onde é feito a ordenha, uso de água sob pressão, substituição de mangueira de fluxo contínuo por modelo de fluxo controlado, manutenção do piso e programa de detecção de vazamentos. “Com pouco investimento, é possível economizar água, energia elétrica e dinheiro e, ainda, fazer com que a produção agropecuária seja hidricamente sustentável”, diz Palhares.
2 – Cuidados no manejo da criação
É preciso que o produtor adote em suas rotinas práticas de produção hidricamente corretas para manter-se competitivo e fazer com que a produção agropecuária seja sustentável. Segundo a Embrapa, além da melhor gestão da água na propriedade, o manejo hídrico é uma importante ferramenta para a preservação e conservação dos recursos naturais. O impacto desse manejo ultrapassa a cerca da propriedade, com reflexos positivos em toda a cadeia de produção até o consumidor final. É produzida igual ou maior quantidade de carne ou leite, por exemplo, com menos litros de água.
3 – Opção hídrica para agricultura
De acordo com o engenheiro agrônomo Luciano Cordoval, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), “primeiro é preciso plantar a água para depois colher os frutos da sua abundância”. Ele é coordenador do projeto Barraginhas, iniciado na década de 1990 e atualmente presente em 13 estados e no Distrito Federal (leia abaixo). Conta que antes, durante 20 anos, retirava água dos mananciais, quando trabalhava com irrigação. “Mas, há 25 anos, eu colho chuva e devolvo água para os rios”, diz, satisfeito.
As barraginhas são pequenas bacias que captam enxurradas e permitem que a chuva infiltre no terreno, reabastecendo o lençol freático. Assim, “plantam água” e mostram ótimos resultados, já comprovados por diversos produtores. “Antes, a chuva caía e ia embora, deixava a terra sequinha. A enxurrada saía rasgando tudo e ia embora. Hoje não. As chuvas caem, ficam aqui e vão entrando na terra devagarzinho. Então isso aí ajudou. Deu à gente condições de ter esperança e batalhar, trabalhar, plantar. E aqui produzo café, laranja, jabuticaba. E o meu terreno é num cerrado. Mas a gente foi vendo que é uma natureza e tem que saber conviver com ela. Eu vi que tudo tem recurso e hoje faço parte da agricultura familiar, sou cadastrado”, conta Geraldo Saldanha, produtor rural de Araçaí (MG).