O número de lavouras com sintomas da mancha-anular vem aumentando ao longo dos anos nas diversas regiões produtoras de café. Essa doença é causada pelo vírus CoRSV (Coffee Ring Spot Virus), do grupo dos Rhabdovirus, e leva este nome porque os sintomas se apresentam nas folhas e frutos geralmente em forma de anéis.

De acordo com o acarologista/entomologista e pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Paulo Rebelles Reis, há duas hipóteses que podem ser estabelecidas para explicar a sintomatologia do ataque. Na primeira, as lesões podem ser causadas por uma toxina injetada pelo ácaro Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Tenuipalpidae) no tecido da planta ou por um vírus por ele veiculado, sendo que as duas podem ocorrer simultaneamente. A transmissão da doença pode ocorrer também pela enxertia e/ou mecanicamente.

O pesquisador afirma que a presença do ácaro, também conhecido como ácaro-plano, devido ao formato achatado dorso-ventralmente de seu corpo, é condição essencial para a disseminação da doença.

“Uma vez infectado pelo vírus, o ácaro não perde mais a capacidade de transmissão, a qual ocorre somente durante sua alimentação, e a maior população é encontrada no período mais seco do ano, com temperaturas mais amenas, que vai de fevereiro/março a outubro/novembro”, disse.

Segundo Paulo Rebelles, os danos devidos à doença mancha-anular vão, desde a desfolha acentuada das plantas, passando pela queda precoce de frutos, até a perda de qualidade do café.

“Ferimentos causados pelo ácaro enquanto se alimenta são portas de entrada para fungos que provocam doenças como a cercosporiose, que derruba precocemente folhas e frutos. Além disso, penetram pelos ferimentos outros fungos que podem causar fermentações indesejáveis durante a secagem do café, entre eles fungos dos gênerosFusarium, Penicillium, Cladosporium e Aspergillus, quase sempre associados à má qualidade da bebida do café”, completa.

Paulo Rebelles alerta para o fato de que o período da colheita de café, em que normalmente ocorre desfolha da planta, está inserido no período em que se observa a maior população do ácaro, e que nessa época o cafeicultor deve manter-se atento.

Quanto ao controle do ácaro B. phoenicis sabe-se que, em associação com ele, é constatada a ocorrência de inimigos naturais, como ácaros predadores de várias espécies. Esses ácaros, de acordo com Paulo Rebelles, predam o ácaro vetor da mancha-anular com maior intensidade quando ele está no estágio de larva, seguido pelo de ovo e ninfa, sendo que na fase adulta é menos predado por seus inimigos.

Outra forma de combater a praga é utilizando o controle químico, mas, neste caso, o pesquisador chamou atenção para um aspecto importante. “Os ácaros predadores são de grande importância para o cultivo do cafeeiro e devem ser preservados por meio da utilização de produtos fitossanitários seletivos, ou seja, que combatem o ácaro indesejado e não atingem seus inimigos naturais”, disse.

Alguns acaricidas para combater o B. phoenicis estão disponíveis no mercado, como aqueles à base de azociclotina (Caligur500 SC); espirodiclofeno (Envidor 240 SC); fenpiroximato (Ortus 50 SC); hexitiazoxi (Talento 500 WP); propargito (Omite 720 EC); fenpropatrina (Danimen 300 SC, Meothrin 300 EC) e abamectina (Vertimec 18 EC). Na bula dos produtos registrados para o cafeeiro quase sempre aparece a indicação para o controle do ácaro-da-leprose, nome comum da mesma espécie de ácaro em citros onde é vetor do vírus da leprose, porém, em cafeeiro trata-se do ácaro da mancha-anular.

Já no âmbito do manejo da praga, o pesquisador da Epamig complementou. “O controle deve ser realizado em função da incidência da doença. E não do número de ácaros encontrados, por meio de duas pulverizações com acaricidas seletivos aos ácaros predadores. A primeira deve ser feita logo depois da colheita do café, quando as plantas estão mais desfolhadas facilitando a penetração da calda em suas partes internas, local preferido por esse ácaro, e a segunda quando os frutos estiverem ainda na fase de chumbinho, quando os ácaros se dirigem a eles para se alimentar e colocar ovos na região da coroa”, explicou Rebelles.

O pesquisador finalizou. “O volume de água na pulverização nunca deve ser inferior a 800 litros por hectare, e é muito importante que o cafeicultor consulte um engenheiro agrônomo antes de tomar suas decisões”.