Produtores do estado vão investir R$ 15 mi para driblar atravessadores. Também preparam visita à feira na China


Marta Vieira

Cafeicultores de Varginha e região vão desembolsar R$ 15 milhões até o fim do ano que vem para construir uma unidade dedicada ao sonho de exportar diretamente o grão, hoje adquirido por indústrias torrefadoras e grandes exportadores. O principal destino almejado é a China, a terra do chá que está começando a se dobrar aos hábitos ocidentais. Na Zona da Mata, o potencial de consumo do dragão chinês se transformou, da mesma forma, em alvo dos planos das fazendas de café de participar do mercado internacional. A Associação Comercial, Industrial e Agronegócios de Manhuaçu pesquisa o mercado chinês desde o ano passado e organiza a viagem de representantes do setor ao país asiático em junho.

O trabalho dos produtores de Varginha e Manhuaçu é parte de um esforço para o café mineiro vencer as barreiras e desbravar o consumo na China, que promete crescer 90%, com o processo acelerado de urbanização e a aproximação dos jovens aos hábitos culturais ocidentais, conforme levantamentos estatísticos feitos pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. Daniel Diniz Manucci, diretor da câmara em Minas, sustenta que, como maior produtor de café do Brasil, o estado tem todas as chances de se beneficiar de um aumento estimado dos atuais 4% para 20% nos próximos cinco anos da participação brasileira nas importações de café da China.

A Central Exporta Minas, instituição ligada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, com participação de entidades do setor privado, comunga da mesma avaliação. A promoção comercial da cadeia mineira de produção de alimentos foi eleita prioridade para diversificação de parceiros do estado no comércio exterior, informa Jorge Duarte de Oliveira, diretor da Central Exporta Minas. Depois do minério de ferro, o grão é o segundo melhor produto de exportação de Minas.

"A nossa ideia é mostrar a qualidade do café mineiro, num esforço de divulgação, para abrir o mercado chinês. Além de vender o grão diretamente, podemos atrair investidores do país asiático para projetos de industrialização do grão no estado", afirma Daniel Manucci, da Câmara Brasil-China. No ano passado, a própria seção mineira da câmara recebeu consultas de investidores chineses interessados em terras de produção cafeeira no Sul de Minas. Agora a instituição organiza a 1ª Missão Empresarial do Café à China, de 16 a 22 de junho. O café mineiro será exibido durante a China International Coffee Industry, em Pequim, de 18 a 20 de junho.

A Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha, que reúne cerca de 4 mil produtores do polo do Sul mineiro, está se reestruturando e decidiu reavaliar todo o processo de preparo e a logística para disputar o mercado internacional. "Queremos conhecer o horizonte de negócios com a China e colocar nosso café lá", diz Marcos Mendes Reis, diretor da cooperativa. Boa parcela do investimento de R$ 15 milhões que está em curso nas instalações da instituição será para erguer uma unidade de preparo do grão para exportação com capacidade para 1,5 milhão de sacas anuais.

Entre mais de 3 mil propriedades rurais de Manhuaçú, 90% são produtoras de café. O objetivo da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária local é promover as vendas conjuntas ao exterior dos produtores, conta o presidente da instituição e produtor de café, Antonio Carlos Xavier da Gama. "Se a gente conseguir fazer a venda direta para o mercado chinês, o nível de valorização do nosso produto será muito maior", afirma. A iniciativa sai fortalecida pela maré de bons preços do produto. No fechamento de ontem do mercado de café, as cotações da variedade arábica tipo 6 duro variaram de R$ 450 para a saca de 60 quilos do produto de Maringá (PR) à R$ 520, para o produto de Patrocínio, no Alto Paranaíba mineiro, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.