Preços nas cafeterias e nos supermercados vai subir de 35% a 50% este ano em função do aumento de 60% na saca de 60 quilos do produto. Escassez no mundo provoca alta
Zulmira Furbino
O preço do café nas gôndolas dos supermercados brasileiros deverá ficar entre 35% e 50% mais caro até novembro deste ano. O reajuste, impulsionado pela escassez do produto de boa qualidade no mercado internacional, já chegou aos produtores e até agora vinha sendo contido pela maioria das indústrias do segmento, que já avisam: não vai dar para segurar. Diante disso, as cafeterias de Belo Horizonte também preparam a remarcação do cafezinho. Já tem gente pensando até em diminuir o tamanho da xícara como forma de evitar um aumento direto de preço para o consumidor.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), os preços dos grãos de qualidade média subiram 60% do início do ano para cá e os de boa qualidade 40%. Em média, nos últimos 12 meses, o reajuste do café, levando-se em conta todos os tipos de grãos, foi de 70%. Entre 2010 e 2011, os grãos de alta qualidade viram seus preços reajustados em 100%. "O preço do café subiu muito porque o consumo do mundo aumentou e os países que produzem café de boa qualidade estão enfrentando dificuldades para elevar sua produção", explica o presidente da Abic e do Sindicato das Indústrias de Café do Estado de Minas Gerais, Almir José da Silva Filho.
É o que vem ocorrendo em países como Colômbia, Honduras, Guatelama e México. Segundo ele, a Colômbia, por exemplo, passa por um período de fadiga da terra e não consegue fazer a produção subir acima de 8,5 milhões de sacas. Países africanos como Etiópia e Nova Guiné também não têm capacidade de aumentar a produção. "A oferta e a demanda estão muito apertadas", diz Filho. No Brasil, os preços do grão cru saltaram de R$ 250 (a saca de 60 quilos) para entre R$ 550 e R$ 600 desde abril de 2010 até agora, segundo dados da Abic. "A matéria prima usada para fazer o café torrado e moído dobrou de preço e a indústria só repassou 5% desse percentual", avisa Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da entidade.
O problema é que não dá mais para segurar os reajustes, amarrados até agora pelo estoque da indústria - comprados a preços antigos -, pela concorrência e pela resistência do varejo em aceitar reajustes de preços. Diante disso, algumas empresas do segmento começaram a remarcar seus preços em 15%. "Mas a média da necessidade de atualização é de 30%. O consumidor deve esperar o aumento do preço do café nas prateleiras dos supermercados", alerta Herszkowicz. Em 2010, o preço do cafezinho teve reajuste de 11,23% contra um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,92%. Até fevereiro, o mesmo cafezinho subiu 1,86%, ante alta do IPCA de 1,64%, O café moído teve seu preço reajustado em 2,50% no ano passado e em 1,15% entre janeiro e fevereiro deste ano.
NO BALCÃO Geraldo Neme, dono da cafeteria Boca de Pito, há 35 anos no mercado, só não reajustou os preços do café servido ao consumidor porque tem estoque do produto. Ele compra cerca de 400 quilos de café ao mês e ainda tem produto estocado para os próximos quatro meses. "Quando o pessoal (a concorrência) atualizar os preços, vou reajustar junto", diz. O empresário, porém, já traçou a estratégia para suavizar a dor do consumidor com o aumento. "Estou pensando em reduzir o tamanho da xícara do cafezinho de 60 ml para 30 ml. Já fiz isso em 1986, quando o café dobrou de preços de uma hora para a outra. Agora posso lançar mão do mesmo artifício".
Renato Moura Caldeira, dono do café Nice, reajustou os preços do cafezinho servido na casa de R$ 1,00 para R$ 1,20. O último reajuste, segundo ele, tinha sido implementado no início de dezembro de 2008. "Foram dois anos e três meses segurando o preço. Agora, a saca subiu muito, sem contar a alta do salário mínimo no período e as tarifas de energia elétrica", justifica. Segundo ele, não há planos para novas correções, a não ser que o preço do grão dispare. "Nesse caso, serei obrigado a acompanhar".
CONSUMO RECORDE E NOVOS NEGÓCIOS
Segundo o Ministério da Agricultura, os brasileiros consumiram em 2010 uma média de 4,81 quilos (kg) de café por habitante. Quantidade suficiente para fazer 80 litros do tradicional cafezinho, segundo cálculos do Ministério da Agricultura. O número, apresentado pelo ministério, superou o recorde anterior, registrado em 1965, quando o consumo per capita no país foi de 4,72 kg.
O aumento levou a uma demanda interna de 19,1 milhões de sacas do produto no ano passado. O consumo em 2010 foi 3,5% maior que o do ano anterior, de 4,65 kg. A nova marca coloca o Brasil à frente de grandes consumidores como a Itália e a França, mas ainda distante de Finlândia, Noruega e Dinamarca, países nórdicos, onde o consumo é de quase 13 kg por pessoa ao ano.
Na quarta-feira, a israelense Strauss Coffee, que já possui 50% da torrefadora de café Três Corações, anunciou a compra da concorrente Fino Grão. Com a operação, a Três Corações pode vir a se tornar líder do mercado nacional, hoje dominado pela norte-americana Sara Lee. A Fino Grão é a atual líder do mercado na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
ANÁLISE DA NOTÍCIA
O preço do cafezinho vai ficar mais amargo e os culpados pelo reajuste estão bem longe das lavouras cafeeiras das regiões produtoras do estado. Países que não plantam nem mesmo um pé de café são os responsáveis pelo aumento que vai pesar no bolso dos brasileiros. A forte procura pelo produto no mercado internacional, reforçada aí pela inclusão de milhares de consumidores da China e de outras regiões do planeta que antes não tinham acesso à estimulante bebida, levou à redução dos estoques. A questão é global. Caiu a oferta de café no mundo, o preço subiu aqui. A maioria dos brasileiros vai arcar com o custo desse desequilíbrio, mas os produtores de Minas comemoram. Com o valor pago pela saca atualmente dá para arcar com os custos da lavoura e ainda sobrar um troco. É mais renda para o estado. (Graziela Reis)
COOXUPÉ INVESTE
A Cooxupé inaugura amanhã a primeira parte do Complexo de Armazenagem e Indústria de Café Japy, em Guaxupé, no Sul de Minas. Orçado em R$ 70 milhões, o complexo se consolida como uma indústria moderna, equipada para receber cafés a granel que serão empilhados em bags (embalagem nova para ensacar o café). Com esta etapa concluída, a Cooxupé amplia sua capacidade atual de armazenagem em 1,5 milhão de sacas. O investimento conta com o apoio do Banco do Brasil e Banco Nacional Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).