A produção total de café beneficiado em Minas Gerais deve apresentar queda de 38,1% neste ano, para 21,4 milhões de sacas, segundo levantamento anual realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O levantamento foi realizado nos meses de agosto e setembro, quando as áreas plantadas de café já estavam 95% colhidas. O volume deve ser o menor desde 2009, quando o estado produziu 19,9 milhões de sacas de café. O recorde foi batido em 2020: 34,6 milhões de sacas.
As principais causas apontadas pela Conab são o déficit hídrico, causado pela seca que afeta o estado, e a bienalidade negativa, uma característica dos cafezais que alternam anos com produção mais elevada e anos com produtividade menor.
“Se em um ano o café tinha muito fruto, ele destinou as suas energias para o florescimento e a frutificação, por isso cresceu pouco. Como ele cresceu pouco, no ano seguinte ele vai produzir menos. Nesse ano que ele produzir menos, por ter pouco fruto, ele vai conseguir crescer mais para no ano seguinte voltar a produzir muito e faz essa alternância”, explica Dalyse Toledo Castanheira, professora do departamento de agricultura da Universidade Federal de Lavras (Ufla).
Os dados da Conab são referentes à safra colhida em 2021, mas que teve o início de seu ciclo produtivo em 2020. Portanto, a escassez hídrica atual pode ser um fator que também afetará a produção do próximo ano. “Estamos em um período em que as lavouras já estão necessitando de uma disponibilidade hídrica um pouco maior, porque o café agora está na época de florescer”, afirma a professora.
Outra preocupação dos especialistas está relacionada às geadas que atingiram Minas Gerais e São Paulo em julho de 2021. Como elas ocorreram em um período em que a maior parte das lavouras já estava em fase avançada do ciclo de produção, o fenômeno pode ter impacto na próxima safra.
Levantamentos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) apontam que cerca de 10 mil cafeicultores do estado foram afetados pelas geadas. “É uma situação bem complicada. Cerca de 174 mil hectares foram atingidos de alguma forma. Essa área se concentra em regiões de produção muito grande, como as regiões de Alfenas, de Patrocínio e de Guaxupé”, diz Bernardino Cangussu, coordenador técnico de cafeicultura da Emater.
No Brasil, a produção deve atingir 46,9 milhões de sacas neste ano, cerca de 75% do volume de 2020. Como o país é o maior produtor mundial do grão, essa queda na produção, associada à alta do dólar, tem pressionado as cotações do café. A saca de 60 kg da variedade arábica, que custava R$ 535,50 um ano atrás, agora é negociada a R$ 1.146,61.
“A gente tem um cenário principalmente climático do Brasil que tem feito com que as cotações subam. Tem também um reflexo da Bolsa internacional, as commodities como um todo subiram e o café não foge a essa regra. E há o próprio fator cambial. Quando a gente converte o preço internacional de referência da Bolsa para o preço em reais, reflete nos preços recebidos pelos produtores”, diz Renato Garcia Ribeiro, pesquisador do mercado de café do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Ele aponta, ainda, que neste período houve um aumento considerável nos custos de produção, visto que muitos insumos são importados e tiveram aumento de preço, como os fertilizantes.
Segundo a Conab, em 2020 o Brasil bateu recorde na exportação de café, com um volume total de cerca de 43,9 milhões de sacas. Nos primeiros meses de 2021, a exportação permaneceu em alta. “De janeiro a agosto de 2021, o Brasil já exportou cerca de 28,4 milhões de sacas de 60 quilos em equivalente de café verde, o que corresponde a um aumento de 8,7% na comparação com o mesmo período de 2020”, afirma a Conab em seu relatório.
As informações são da Revista Cafeicultura/FOLHAPRESS/Jornal O Tempo.