Por Rodrigo Correa da Costa

O mercado acionário derreteu na semana passada com quedas entre 2.74% e 4.45% entre os índices americanos e baixa entre 2.88% e 4.95% para os indicadores europeus.

A avaliação cautelosa e negativa do FMI sobre a situação da economia mundial, com estimativas de crescimento baixo para países como a Alemanha, o Japão e o Brasil fizeram com que os investidores continuassem a liquidar parte de suas posições em ativos de risco.

Os principais índices de commodities tiveram comportamento misto, reflexo do peso que cada matéria-prima tem em cada um deles. Os mais carregados em energia cederam com as fortes baixas dos contratos de gasolina, petróleo, e óleo de aquecimento. Outros que dão peso similar às commodities agrícolas e metais ficaram virtualmente de lado, já que café, cacau, suíno magro, metais preciosos e trigo subiram.

O contrato de arábica da ICE fez uma nova alta no ano negociando nos mesmos patamares de janeiro de 2012, quando então recuava há alguns meses dos US$ 301.02 centavos de abril de 2011, ou dos US$ 308.90 de maio do mesmo ano, considerando respectivamente a primeira e a segunda posição.

Os ganhos de US$ 18.39 a saca em Nova Iorque e de US$ 4.74 a saca em Londres refletiram mais uma vez do constante adiamento do começo das precipitações em volume e constante no “cinturão de café” do Brasil.
Há também o efeito agudo do aperto financeiro entre os agentes, dada a apreciação acentuada e praticamente ininterrupta do terminal que gera chamada de margens e que também tem aumentado em função de muitos estarem aproveitando a grande oportunidade de ficar ainda mais comprado em diferencial.

O problema é que o alargamento constante do basis, e o contínuo aumento de posição de quem está fazendo a correta aposta de ficar mais long, em um dado momento acaba esbarrando nos limites dos departamentos de risco e financeiro das empresas. Na verdade este é provavelmente o principal motivo dos diferenciais estarem tão abertos.

O agravamento da, mais uma vez, acertada estratégia – que pode ser custosa sim por algum período – vem do fato da demanda recuada e que não permite o giro do livro, um assunto recorrente inclusive na reunião da Basiléia da última sexta-feira dia 10 de outubro.

As conversas que aconteciam em reuniões fechadas ou em bate-papo no centro de conferência onde aconteceu o 5º Coffee Dinner Suíço, além de girarem em torno do atraso das chuvas – que não há consenso se já causou um desastre enorme ou se eventualmente pode ser reversível com a chegada das chuvas até o final deste mês – também tinha um tom de alerta para uma queda do consumo mundial.

Alguns diziam que consumidores em países europeus que tem sofrido com altas taxas de desemprego e recessão já estão deixando de tomar café, logo causando a queda do consumo mesmo que o preço na gôndola do supermercado não tenha sido ainda reajustado para espelhar a alta do terminal recente. Aliás, este seria o motivo da demanda tão pequena que tem se notado há algum tempo.

Diante deste cenário os baixistas (sim há bastante e inclusive com argumentos interessantes) apontam que muitos analistas só estão olhando para um lado da equação, que é a produção, esquecendo-se da enorme disponibilidade de grãos que saíram das origens para o destino, e mais ainda de uma redução da demanda mundial.

Em um mercado cheio de novidades, com uma seca no Brasil acontecendo em um momento sem paralelo, com discussões complexas sobre morte ou deterioração das raízes dos cafezais, degeneração do estômato das folhas, e outros estudos técnicos de baixa compreensão pela grande maioria (o que não significa que não possa ser real), por que não eventualmente vermos o café se transformar em um produto que a um preço alto e com condições macroeconômicas ruins possa ter uma demanda elástica?!

Não creio, pessoalmente, que seja algo representativo, e acredito que caso ocorra queda de demanda isto seja pontual, até porque não faltará café mesmo que a produção brasileira seja menor do que 40 milhões de sacas que alguns acreditam.

Aos meus leitores vale lembra que eu sempre acho salutar ouvirmos opiniões distintas e sermos cautelosos para não olharmos apenas para um lado do mercado – o que agora significa ser altista como se não houvesse limite para a alta. O mercado pode sim subir mais, muito em função de um aperto financeiro que pode forçar recompra de posições, o que pode acontecer com mais postergações do começo da chuva ou por alguém provocando um squeeze – improvável.

Os produtores diante de dúvidas que muitos tem sobre a quem ouvir, estão certos em aproveitar para vender café e colocar dinheiro no bolso. Os exportadores e os dealers vão tentar ficar ainda mais long diferencial brasileiro a 40 abaixo, o que é uma grande oportunidade, pois, se faltar café (o que puxaria o terminal) ou chover bem (pressionando a bolsa) o basis vai estreitar – o desafio é ter caixa para aguentar as variações do contrato futuro até lá.

Na quarta-feira próxima terei mais uma vez o prazer de participar do Simpósio de Mercado e Certificação de Café em Monte Carmelo-MG, o evento número quatro da associação. Depois tirarei alguns dias com a família, de forma que não haverá comentário nas duas próximas semanas, retornando no final de semana do dia 1º de novembro.

Bons negócios a todos.