Recente, em meados de fevereiro, foram observadas floradas significativas em cafeeiros de diferentes regiões. Essas florações representam prejuízos, tanto para as plantas quanto para o cafeicultor.

Muito se tem divulgado e esclarecido sobre essas floradas fora de época. Trata-se de um processo fisiológico, até certo ponto anormal, pois o cafeeiro no Brasil apresenta diferenciação floral no período de abril a junho e florescimento a partir de setembro até dezembro.

As explicações para as floradas tardias que vem acontecendo neste ciclo agrícola 2018/19 têm sido dadas por fisiologistas, sendo a principal causa atribuída ao maior vigor ou excesso de reservas das plantas. No entanto, a nosso ver, outros fatores ou condições ambientais têm contribuído para esse florescimento.

O primeiro fator parece ter sido pela retomada das chuvas dentro do ciclo 2018/19 de forma precoce e, consequentemente, de abotoamento e florações já no inicio de agosto, com plantas ainda não muito estressadas, portanto, com parte das gemas ainda imaturas. Além disso, essas chuvas mais cedo promoveram uma antecipação do crescimento dos ramos laterais dos cafeeiros, com emissão de novos nós, os quais, através do seu amadurecimento em seguida, também de forma mais precoce, passaram a dar origem a novas gemas e ao abotoamento.

A segunda condição favorável às florações tardias tem também natureza climática. Sob condições de maior calor e períodos de stress hídricos, por pouca chuva e pelas próprias altas temperaturas, que aumentam a evapo-transpiração e dificultam o abastecimento dos tecidos pelas raízes das plantas, parece que vem ocorrendo mini-estresses, os quais, no momento seguinte, pela retomada de chuvas, provoca o florescimento.

É importante frisar que o florescimento tardio ocorreu tanto na parte do ramo crescida no ciclo agrícola anterior (o que é normal), como no crescimento do ano agrícola atual, a parte terminal do ramo, ainda com a casca esverdeada, ou seja, parte do ramo que floresceria e produziria somente em 2020.

Pasmem que, apesar dessa florada ser muito tardia, ainda sobram botões, na parte mais nova dos ramos, para futuras floradas.

Agora vamos aos prejuízos: para as plantas, as perdas são de ordem fisiológica, com gastos extras de reservas, destinadas ao florescimento e à frutificação adicionais. Para os cafeicultores, resultam perdas por não ser possível o aproveitamento dessas últimas frutificações, decorrentes dessas floradas tardias. Primeiro porque elas resultarão em frutos ainda pequenos, sem sementes formadas ou granadas na época da colheita normal, pois o tempo de crescimento dos frutos fica curto. Segundo, porque parte do ramo que produziria em 2020 (3-5 nós dele) já foi ocupada pelas últimas floradas. Deste modo, poucas ou nenhumas gemas restarão, reduzindo a expectativa de produtividade para o ano próximo.


Cafeeiros com floradas tardias, em 12 de fevereiro/19, sobre ramos verdes, do crescimento deste ano. Pode-se ver também frutos bem crescidos de floradas normais, os quais, na época de colheita, serão aproveitados, ficando aqueles oriundos dessa florada tardia, sem aproveitamento. Botelhos-MG.


Detalhe de ramo produtivo de cafeeiro, mostrando o avanço de florações e frutificações tardias em parte do crescimeto do ano, neste ramo. Varginha-MG.

 

POR JOSÉ BRAZ MATIELLO

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