Especialistas apontam que os contratos futuros do café arábica acumularam perdas de aproximadamente 22% em janeiro até o fechamento de ontem (30/01) na Bolsa de Nova York e, conforme analistas, devem continuar sob pressão no mercado norte-americano.
Segundo eles, a projeção de baixa emerge da sensação de uma oferta maior que entrará no mercado nos próximos meses, com o início da colheita no Brasil, sobre a qual diversos players têm especulado valores superestimados em relação aos números oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que previu a safra entre 57 milhões e 62 mi de sacas.
Para o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, as especulações são constantes em todos os ciclos produtivos do país e diversos atores, em especial do lado comprador, tendem a supervalorizar o tamanho das colheitas brasileiras, almejando derrubar os preços para adquirirem o produto mais barato.
"Esses especuladores não consideram que as baixas cotações limitaram o poder de investimento nos cafezais e, consequentemente, os produtores reduziram os tratos nas lavouras. Também `esquecem´ os impactos negativos que as adversidades climáticas do ano passado, como, por exemplo, estiagem e geadas pontuais, e deste ano, como as fortes chuvas que caem em Minas Gerais e Espírito Santo, inclusive em áreas cafeeiras, terão no volume a ser produzido", critica.
Silas completa que, em função dos efeitos climáticos e dos altos custos, os estoques de passagem do país vêm reduzindo gradativamente ao longo dos anos e, em março de 2020, estarão em seu menor nível histórico. "Com volume armazenado diminuto, a safra que colheremos este ano será suficiente para honrar nossos compromissos com exportação e consumo interno, sem gerar excedentes", conclui.
Também impactou direta e negativamente nos preços internacionais do café a disparada do dólar em relação ao real e a outras moedas fortes e emergentes ligadas a commodities. A divisa norte-americana avançou especialmente depois que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou emergência internacional devido à epidemia do coronavírus.
Os investidores passaram a realizar ajustes e a se prevenir a respeito dos impactos que esse cenário causará na economia da China e mundial. Ontem, o dólar comercial encerrou a sessão a R$ 4,2589, seu maior patamar desde novembro de 2019, que representou alta acumulada de 1,75% na semana.
Em relação ao clima no cinturão cafeeiro do Brasil, a previsão da Somar Meteorologia é que permaneça instável no fim de semana na maior parte dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que devem receber chuva forte acompanhada de rajadas de vento e descargas elétricas. Para o Espírito Santo, o serviço informa que pode chover, mas de forma mais branda.
No mercado físico, as negociações seguem em ritmo lento. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), mesmo com o aumento da demanda por cafés arábicas mais finos e canéfora (robusta) nos últimos dias, a queda internacional pressionou os valores no país e afastou vendedores. Os indicadores calculados pela instituição para o arábica e o canéfora ficaram em R$ 470,22/saca e R$ 305,43/saca, respectivamente com quedas de 3,1% e 1,5%