Espera Feliz é um município mineiro de aproximadamente 24 mil habitantes, localizado na Região do Caparaó, que vem chamando a atenção nos últimos tempos justamente por conta da qualidade dos cafés produzidos.
Por vários anos, os grãos que eram cultivados em Espera Feliz tinham pouca valorização no mercado, pois eram considerados de baixa qualidade. Só que esta história começou a mudar há cerca de dez anos e o município agora se transformou em referência na produção de cafés especiais. Os cafeicultores de Espera Feliz têm conquistado os primeiros lugares em diversos concursos pelo País. Só no Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais, promovido pela Emater-MG, e que conta com cerca de 2 mil cafés inscritos a cada edição, eles obtiverem os primeiros lugares estaduais nos anos de 2017, 2018 e 2019.
Foto: Emater-MG
“Os cafeicultores começaram a se preocupar com a qualidade do café há pouco mais de dez anos. Naquela época, o extensionista da Emater no município iniciou um trabalho de conscientização e de melhoria do processo de produção com umas cinco famílias. Como os resultados surgiram a partir de 2012, vários outros produtores começaram a se preocupar com a qualidade final do café”, explica Antônio Fernando Teixeira, extensionista da Emater-MG, que trabalha com o programa de certificação de propriedades cafeeiras.
Atualmente, mais de 100 cafeicultores de Espera Feliz produzem cafés especiais. A agricultura familiar é predominante no município. Cerca de 80% dos produtores têm propriedades inferiores a 20 hectares. A maioria usa a mão de obra da família como única força de trabalho na lavoura. Outra prática comum é a troca de serviço entre os agricultores. Neste sistema, eles se reúnem para trabalhar em uma propriedade e fazem um revezamento entre elas. Isto é muito comum, principalmente no período da colheita.
“Neste sistema de parceria, eles conseguem colher lotes mais uniformes, facilitando o trabalho pós-colheita”, explica o extensionista. Segundo Antônio, os cafés são colhidos de forma seletiva e secados em terreiros suspensos ou de cimento, cuidados que são determinantes para a qualidade do produto final. Além disso, as lavouras onde estão os cafés premiados ficam entre 1.000 e 1.400 metros de altitude, com clima ameno e úmido.
Todos os produtores premiados de Espera Feliz participam também do Certifica Minas Café, um programa de certificação de propriedades cafeeiras desenvolvido pela Emater-MG, em conjunto com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). A Emater-MG orienta os produtores na adequação das propriedades às boas práticas agrícolas em todas as fases da produção, atendendo normas ambientais e trabalhistas, reconhecidas internacionalmente. Ao final do processo, a propriedade passa por uma auditoria para o recebimento da certificação. Mais de 1.100 propriedades estão certificadas no estado.
O produtor Tarcísio Lacerda plantou a primeira lavoura de café em Espera Feliz em 1972. Ele conta que durante anos vendeu os grãos a preços baixos, pois o café da região era considerado ruim. Com a ajuda do filho, Jhone Lacerda, começou a melhorar a qualidade da produção, além de entender melhor o mercado e se capacitar. “Acabei tendo a surpresa ao ver que a gente já produzia um café bom. Só não sabia disso. O comércio não nos remunerava pela qualidade”, conta.
Foto: Bruno Lavorato / Café Editora
Incentivado por Jhone, Tarcísio começou a acreditar que poderia vender café considerado especial, muito mais valorizado no mercado. A ideia era comercializar o produto diretamente para cafeterias. “Naquela época achava que tudo era um sonho. Mas como o sonho era bonito, eu comecei a sonhar junto. Meu filho começou a fazer cursinho, entender de classificação, de degustação, de tratos culturais, até que começamos a produzir cafés diferenciados. Em 2012, a gente comercializou o primeiro saquinho de café direto para uma cafeteria”, lembra.
Para Jhone, a participação do Certifica Minas foi fundamental para melhorar a gestão da propriedade. “O Certifica Minas foi o start. Se a gente não tivesse descoberto o programa lá atrás, a gente estaria uns três ou quatro anos atrasado. Ele nos ajudou a colocar um preço justo no nosso café, graças à organização que o programa nos ensinou a ter”.
Foto: Bruno Lavorato / Café Editora
Nos últimos anos, os cafés de Espera Feliz premiados em concursos têm sido comercializados, em média, por R$ 3 mil a saca de 60 quilos, mas alguns lotes chegaram a mais R$ 15 mil por saca. A saca do café commodity (considerado comum) é comercializada por aproximadamente R$ 400.
Os produtores de cafés especiais do município vendem diretamente para cafeterias no Brasil e também para compradores internacionais. As exportações são feitas para mais de dez países. “Os produtores mudaram completamente a maneira de vender os cafés”, diz o extensionista.
As informações são da Emater-MG.