A Federação Russa compreende território composto por 21 Repúblicas – dentre elas; Ucrânia; 7 Territórios; 48 Províncias; 10 Distritos Autônomos, 2 Cidades Federais e 1 Oblast Autônomo (tipo divisão geopolítica eslava). Com taxa de crescimento próxima a 7% ao ano e contando com mais de 145 milhões de habitantes, trata-se reconhecidamente de potência global.

Os recentes conflitos territoriais (Península da Criméia) e separatistas (liderados por milicianos residentes nas províncias ucranianas de maioria russa) produziram escalada da violência que culminou com o decreto de embargos comerciais entre EUA/UE e Rússia (território ampliado uma vez que existe pacto aduaneiro da Rússia com algumas de suas Repúblicas). A retaliação veio na mesma proporção, concentrando-se no embargo de 12 meses às importações de alimentos oriundas da EUA/UE.

Parceiro tradicional nas importações de gêneros do agronegócio brasileiro, a Federação Russa se destaca nas compras do segmento das carnes. Nos primeiros sete meses de 2014 foram embarcadas 184mil t de carne bovina, alçando-os para segundo posto no ranking dos maiores importadores desse produto. Nos suínos o incremento das exportações também foi notável com 48,8% de elevação na quantidade e 35,51% no valor entre janeiro a junho desse ano. A tendência é para crescimento ainda mais significativo, pois a autoridade russa credenciou 100 novos frigoríficos brasileiros como aptos a exportar para a Federação. A expectativa no segmento de aves é de incrementar seus embarques em 150 mil toneladas ainda em 2014. Portanto, essa iniciativa da autoridade russa tem potencial de transformar-se em marco para o segmento das carnes pela dimensão dos negócios que poderá propiciar no curto prazo.

Outros segmentos do agronegócio brasileiro estão também se beneficiando do embargo russo. O patamar de importações de alimentos da Federação Russa supera os US$40 bilhões ao ano, tendo as exportações do agronegócio brasileiro participado em menos de 7% desse montante. Segmentos como: açúcar; suco de laranja; soja; frutas; tabaco e café solúvel compõem a maior parte das exportações brasileiras.

O incremento dos embarques para a Federação Russa é por si só um fato formidável para o agronegócio brasileiro. Todavia, mais importante ainda é a oportunidade concedida para que a indústria brasileira suplante os concorrentes europeus e estadunidenses nesse mercado, consolidando seu já destacado papel entre os maiores players no suprimento global de alimentos, fibras e bebidas.

Mas o que era para ser motivo de júbilo, quando se olham os detalhes (sempre neles mora o diabo), constata-se que as exportações de café solúvel brasileiro declinam ano após ano, em valor e volume, para a Federação Russa. Na comparação entre os primeiros semestres de 2014, de 2013 e 2012, o declínio no valor dos embarques foi de 21,80% entre 2013/14 e de 4,57% entre 2012/13. Refletindo a queda no valor apurado constata-se também queda na quantidade de 6,02 entre jan.jun/2013/20141.

TABELA 1 – Exportações Brasileiras de Café Solúvel para a Federação Russa, jan./jun 2012, 2013 e 2014

Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de: http://www.agricultura.gov.br/vegetal/estatisticas. Consulta efetuada em 13/08/2014.


Ao longo de 2013, frente ao ano anterior, as exportações totais de café solúvel brasileiro exibiram declínio nos valores apurados (-4,53%), assim como no preço médio (-7,81), provocado por incremento nas quantidades embarcadas.

Quando se especula sobre as potencialidades da exportação de café brasileiro com maior valor agregado, os produtos da agroindústria T&M e solúvel se destacam. A Federação Russa exemplifica “case” em que as exportações contemplam produto rotulado em português, exemplo quase que único na pauta exportadora do país2. Constatar o encolhimento dos embarques para esse destino, conforme apontam as estatísticas apuradas, produz frustração naqueles que ainda sonham com a constituição de imaginada “Plataforma Exportadora” do complexo café em território nacional.

As reexportações de café T&M efetuadas pela UE28 para a Federação Russa totalizaram 14.203 toneladas (14,0% do total reexportado pelos países membros) em 2013, ou seja, aproximadamente 289 mil sacas de café verde. Outras 11.569t de café solúvel (25,6% do total reexportado) foram igualmente importadas dessa origem, representando 598 mil sacas de café verde3. Essa é parte da dimensão de mercado que se ignora na terra de pindorama!

As lideranças cafeeiras do País e seus mais destacados produtores permanecem como que anestesiados pela gloriosa história da economia cafeeira pregressa. Desperdiçar essa oportunidade de deslocar os nossos concorrentes no mercado da Federação Russa denota que embalados em berço esplêndido, aguardam pela próxima crise no ciclo de preços que, na estultice de seu sonhar, não os afetará. Na carona do representante diplomático israelense, não passam de anões empresariais bem de vida.


1 Cumpre salientar que entre 2012/13 houve incremento de 5,01% nas quantidades embarcadas, aparente reflexo da queda de 9,40% nos preços médios para a Federação. Porém, o declínio do semestre seguinte produziu déficit de 1,1% no acumulado dos dois períodos.
2 Maiores detalhes em:
VEGRO, C.L.R. et al. Do café verde ao café torrado e moído: vantagens e dificuldades na exportação. Revista Brasileira de Comércio Exterior, n.84, ano xix, jul./ago./set. 2005. 60-70p.

3Consultar detalhes em http://www.ecf-coffee.org/images/European_Coffee_Report_2013-14.pdf