Produtores de café do sul de Minas Gerais enfrentam uma crise. O preço da saca do arábica caiu e não está cobrindo os custos da lavoura.
O município de Três Pontas é o maior produtor de café do sul de Minas Gerais, e, neste ano, deve colher algo em torno de 550 mil sacas. O que poderia ser motivo de comemoração se tornou um tormento para quem vive dessa lavoura.
Dois anos atrás, a cafeicultura nacional passou por um dos melhores momentos da sua história, quando a saca chegou a ser vendida por valores acima de R$ 500. De lá para cá, o preço só caiu, e hoje a saca está sendo negociada abaixo até do mínimo estabelecido pelo governo, que é de R$ 307.
Os principais motivos dessa queda são o aumento na produção do Vietnã, a menor exportação do Brasil em 2012 e a perspectiva de uma safra maior do que o esperado este ano. O que era para remunerar não está nem equilibrando as contas de gente como Angelo André Alves, que cuida da lavoura junto com a esposa e o filho.
“Já passei por umas três, quatro crises. A diferença é que a gente tem que investir mais no café para dar mais boa qualidade”, diz a agricultora Vilma Goulart Alves. Para dar mais qualidade ao café, foi necessário investir no trato da lavoura, com recursos do financiamento bancário.
“Vinte e dois mil que é o que eu tenho que pagar até o dia 15 de dezembro”, afirma Angelo. Isso é metade do que o agricultor vai receber pela venda da safra que está colhendo neste ano. Na esperança de que o preço melhore até o fim do mês, Angelo foi um dos agricultores que, dez dias atrás, participaram de uma manifestação em defesa da cafeicultura.
Do protesto, saiu uma lista de reivindicações para o governo. “Urgente hoje seria o contrato de opção, a renegociação das dívidas e dinheiro para estocagem do café”, afirma Gilvan Mendonça Mesquita, presidente do Sindicato Rural de Três Pontas.
Glaucio Vilela é um dos agricultores que perderam o controle das contas. “Hoje a dívida deve estar em mais de R$ 200 mil. Não só eu, tanto meu pai quanto minha irmã estão com dívidas na praça. A gente não conseguia rodar com um financiamento, foi tentar com outro. Não conseguiu e foi. Um é avalista do outro e um foi complicando a situação do outro”, diz.
Nas mãos, Glaucio segura a última carta de conciliação enviada pelo banco. “Quase todo mês eles tentam fazer negociação, mas é impossível hoje, na situação que está hoje no mercado”, afirma.
O preço baixo do café afetou também o salário do trabalhador que está na colheita. O pagamento funciona assim: quanto mais se colhe, mais se ganha. Só que uma medida que, no ano passado, valia R$ 12 hoje não passa dos R$ 8.
Em um ano, o preço do café caiu R$ 120 por saca. Com isso, R$ 66 milhões deixam de circular na cidade. Três Pontas é um dos municípios do sul de Minas Gerais onde a produção de café é responsável por fazer girar a economia local. Tanto é assim que há quem diga que a moeda corrente por aqui não é o real, mas a saca de café.
Qualquer solavanco no campo tem um reflexo imediato no comércio da cidade. “O pessoal sempre comprou muita proteína, comprou supérfluo, uma variedade, e agora não, agora estão comprando simplesmente o básico, o essencial”, diz Francisco de Assis Carvalho, dono de supermercado.
Diante de toda essa situação, o presidente da Cocatrel, a Cooperativa dos Cafeicultores de Três Pontas, reforça o pedido para que o governo interfira com medidas para ajudar o setor.
“Nós, produtores, não temos poder de força para impor o mercado, e quem tem dinheiro impõe o mercado. Os compradores de café, os importadores de café, os traders da vida, os fundos que põem o preço do café lá na bolsa de Nova York. Por isso, nós precisamos do governo nos apoiar, estar perto de nós, pegando na nossa mão, porque nós temos a fama de ficar chorando. Nós estamos querendo salvar empregos para ele”, diz Francisco Miranda Figueiredo Filho, presidente da Cocatrel.
No dia 18 de junho, o Conselho Monetário Nacional autorizou a liberação de R$ 3 bilhões para custeio e estocagem da safra de café, mas, até agora, o dinheiro não chegou aos bancos. Essa semana, o Globo Rural procurou o Ministério da Agricultura para explicar o atraso, mas ninguém quis dar entrevista.