A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) realizou um levantamento que aponta uma margem de lucro negativa para o cafeicultor brasileiro. Os baixos preços não eram registrados há pelo menos cinco anos.
Na lavoura, muitos produtores reclamam do atual cenário. “O atual preço do café pago ao produtor não está pagando os custos mínimos de produção. Hoje, o custo de produção está em torno de R$ 420. O produtor está virando no vermelho”, relata André Carvalho, cafeicultor do município de Santa Rita de Caldas (MG).
Os preços de comercialização do café arábica no último levantamento estavam em R$ 398 por saca de 60 kg, com custos de R$ 428, ou seja, um prejuízo de R$ 30 por saca. "Registramos que as margens estão muito estreitas para o produtor de café, em diversas praças. Os custos chegam a oscilar entre R$ 347 até R$ 510 por saca, dependendo da tecnologia", explica Maciel Silva, assessor técnico da Comissão Nacional de Café da CNA. "O cenário é desesperador e já estamos em contato com o Governo para resolução desses problemas do setor", completa.
No final de fevereiro e início de março, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica do tipo 6 bebida dura para melhor, posto na capital paulista, chegou ao menor patamar diário desde 30 de janeiro de 2014: R$ 396,32 a saca. Na segunda-feira (11), a referência estava em R$ 401,91. “Um dos problemas do preço baixo é que os produtores que fizeram retenção do café a R$ 430 estão no negativo e pagando juros. O reflexo dos comércios que giram em torno dos negócios com café estão parados”, diz Fernando Barbosa, produtor de São Pedro da União (MG).
Os preços internos do café arábica têm seguido uma trajetória baixista desde o final de 2018, quando o Brasil colheu safra recorde total de 61,65 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mais recentemente, movimentos especuladores e outros fatores fundamentais têm pressionado ainda mais as cotações externas. "O retorno das chuvas sobre os cafezais do sudeste brasileiro no decorrer de fevereiro e os bons volumes embarcados pelo Brasil ao longo deste ano-safra servem de pano de fundo para a pressão de fundos e especuladores sobre as já baixas cotações do café na ICE em Nova Iorque", destacou em relatório o Escritório Carvalhaes.
Os futuros do café arábica na ICE Futures US encerraram a sessão desta terça-feira (12) com queda de mais de 100 pontos, a 96,00 cents/lb no vencimento maio/19. Na safra comercial 2019/20, que está em desenvolvimento, o cenário de baixos preços deve persistir. "Já estimamos um aumento entre 5% a 6% nos custos de produção da safra atual. Vale lembrar que ela será de bienalidade negativa, então pode ser que esse número ainda aumente", diz Maciel.
Os baixos preços do café no mercado brasileiro não estão restritos ao arábica. No conilon, as margens levantadas, na média brasileira, chegam a ser ainda piores. "O custo operacional total estava em R$ 336,00 a saca em janeiro com preço médio de R$ 281,00 a saca. Ou seja, uma margem negativa de R$ 55", ressalta o assessor.
O Conselho Nacional do Café (CNC) e a Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tiveram reunião para debater temas de interesse da cadeia produtiva do café, dentre eles o atual cenário de preços do setor. "Estamos analisando as melhores maneiras para gerarmos sustentabilidade financeira à cafeicultura nacional. Vamos discutir todas as opções com o Governo e definir quais programas são plausíveis de realização", disse Silas Brasileiro, presidente do CNC.
Na lavoura, os produtores se viram como podem. “Estamos fazendo os ajustes para ver se conseguimos honrar com os compromissos”, diz Fernando. Já André explica que está trabalhando com ‘safra zero’: “Esse ano não tenho colheita, praticamente. Vou arriscar para o próximo ano, ver se consigo uma colheita boa e preços melhores”.