“Ninguém jamais imaginaria que o café conilon chegasse a 500 reais. Agora já ultrapassou”, reflete João Galimberti, gerente de mercado da Coopeavi, a Cooperativa Agropecuária Centro Serrana. O movimento do conilon, o café robusta cultivado no Brasil, impressionou analistas nas últimas semanas. Contudo, para os produtores, as perceptivas ainda não são tão animadoras.

Segundo Galimberti, a recente seca de 2015 e 2016 não se encaixa em nada visto em outra época do conilon no Estado do Espírito Santo. “Não podemos comparar. Alguns falam que há 50 anos que não se via uma escassez desta proporção no estado. Vínhamos com uma produção em torno de 9 milhões de sacas em 2015 e, agora, vamos a 5 milhões. Uma coisa absurda”. Os dados mais recentes da Conab apontam para uma produção capixaba de café conilon estimada em 5,38 milhões de sacas, um decréscimo de 30,67% em relação à safra 2015.


A queda vertiginosa, foi apontada também durante a Pesquisa CaféPoint Colheita Cafeeira Safra 2016. Os dados, informados pelos próprios cafeicultores, mostram que 57% deles veem quebra de até 80% em suas lavouras nesta safra.

Os preços cotados na região da Coopeavi acompanharam a alta do tipo em todo País, batendo recordes em diversas ocasiões. Mas, o que esses valores representam para o produtor? “A produção vai cair e os preços subiram. Mesmo com a subida, o produtor olha para a produção, custos e a receita e tem dúvidas se vai valer a pena”, pontua João Galimberti.

O acompanhamento da Cooperativa apontou que a maior parte dos grãos colhidos na safra 2016 já está negociada. “Estamos trabalhando com a base de que 70% da produção no Espírito Santo na safra 2016 já está comercializada. Já em Rondônia e na Bahia, em torno de 80% comprometida. Ou seja, existem produtores que conseguiram segurar café, mas são só os mais capitalizados”. Segundo o gerente, o resultado é que, tomando como referência os dados da Conab, restariam cerca de 3 milhões de sacas de café conilon para ser comercializadas pelo Brasil.

Futuro da produção
No que fiz respeito a necessidade de prorrogação para o pagamento de dívidas contraídas por produtores no estado, a Coopeavi informou que já renegociou os prazos seus associados. “Porém, esses limites nesse momento são mais baixos. Estamos aguardando janeiro e março para saber se poderemos aumentar”.

Já sobre a área plantada, a Cooperativa ainda não tem dados para a próxima safra, mas agentes do sul da Bahia tem reportado que as compras de mudas praticamente já tomaram toda capacidade de produção dos viveiristas locais. “Já para o Espírito Santo, nas áreas onde houve necessidade de lavouras serem arrancadas, devido a seca, principalmente Norte e Noroeste do estado, são áreas em que o clima não favoreceu. Vão todos aguardar para o plantio de abril”, pontua lembrando que a atenção desses produtores está todo voltada para o clima nos próximos meses.

A única certeza entre os cafeicultores, até aqui, tem sido as barreiras a superar. “Nós temos um cenário de muitos desafios, porque vai depender de como o clima vai se comportar nos próximos dias. E, nós sabemos que o mercado interno de conilon tem dado sustentabilidade e suporte, mas é muito difícil falar sobre isso porque a gente sabe das dificuldades que a indústria já está passando, também”.

João Galimberti afirma que não sabe em qual o nível a indústria nacional vai conseguir substituir o blend do conilon pelo arábica. “É uma incógnita”. A Coopeavi lembra que para os produtores a análise ainda tem sido mais interna do que em um ambiente geral. “Temos avaliado da seguinte forma: a expectativa do produtor é de preços mais altos porque ele está olhando pra dentro da porteira. Então, faz todo sentido imaginar que os preços tendem a continuar subindo, mas é preciso observar outras variáveis”.

A cotação local, nesta segunda-feira, dia 24, apresentava valores de conilon, girando em R$510, superiores ao arábica natural, em torno de R$500. “A produção de arábica teve uma produção boa nesta safra. Porém, como o cenário do conilon é ruim, nós acreditamos que isso vai dar uma sustentação para o arábica, que vai ter uma maior demanda no mercado interno”.