Pesquisa mostra que mudanças no clima não necessariamente irão diminuir produtividade do arábica

Pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas nas lavouras de café no Brasil indicam diminuição drástica na produtividade de arábica até 2050. “No entanto, nenhum desses estudos incorporou os efeitos da elevação de CO2”, aponta o holandês Fabian Verhage.

Vindo de uma das instituições de ensino mais conceituadas no setor agro, a Wageningen University, Verhage veio ao Brasil para concluir seu doutorado sob orientação do professor Paulo Cesar Sentelhas, do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq-USP. “Meu interesse pela agricultura nasceu ainda na graduação e como o Brasil é uma dos maiores produtores de alimentos, minha intenção foi aproveitar o conhecimento produzido aqui e tentar apontar soluções para mitigar os efeitos do clima em escala global”.

Na prática, o pesquisador integrou um estudo desenvolvido na Embrapa Meio Ambiente, que avaliou os impactos do aumento da concentração de CO2 do ar e disponibilidade de água em duas cultivares de café e propôs um modelo de projeção da produtividade aplicado para 42 municípios em um cenário futuro entre os anos de 2040 e 2070.

A projeção mostrou que as perdas devido à elevação da temperatura e ao déficit hídrico irão aumentar. No entanto, as perdas adicionais serão compensadas pelo efeito da fertilização com o CO2, resultando em um aumento de produtividade. “Entre 2040 e 2070, as simulações indicam diminuição das perdas devido a geadas, podendo os rendimentos futuros atingirem 1,81 tonelada por hectare em média no Brasil”, aponta Verhage.

Segundo o autor, a projeção indicada no estudo ajuda a entender melhor o cenário dessa importante commoditie agrícola. O objetivo é direcionar produtores, pesquisadores e formuladores de políticas a pensar estratégias de mitigação e adaptação da atividade agrícola.

Se a concentração de CO2 terá impacto positivo, Verhage alerta, no entanto, para outros efeitos que podem impactar negativamente as lavouras. “O comportamento de pragas e doenças, o manejo das reservas de água e outros fatores não devem ser deixados de lado”.

Na Holanda, a pesquisa teve orientação do professor Niels Anten, do Centre for Crop Systems Analysis.

Fonte: Esalq