“Estamos na entressafra, após duas colheitas menores, impactadas por fortes adversidades climáticas nos últimos anos. Há, ainda, certa resistência dos produtores em comercializar seu estoque da safra 2022 nas bases atuais de preço, que caíram significativamente desde outubro, fatos que justificam o recuo observado em janeiro”, analisa Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.
Com a queda acentuada das cotações internacionais há quatro meses, cujo movimento registrou as mínimas em janeiro, ele explica que os diferenciais dos cafés arábicas brasileiros apertaram bastante, uma vez que as cotações no mercado físico não acompanharam o declínio externo na mesma proporção, dada a resistência dos produtores em período de entressafra.
“Os importadores têm preferido postergar novas compras ou optado por coberturas pontuais no mercado spot lá fora, ficando, apenas para último caso, novas aquisições diante desses diferenciais mais caros”, revela. Ferreira completa que esse comportamento “é natural em período de entressafra, principalmente quando se vêm de dois anos seguidos de colheitas menores”.
Outro fator de impacto nos embarques é a maior demanda das indústrias nacionais, principalmente pelos canéforas. “Essa procura interfere na exportação da variedade, que recua ao longo do último ano. Em janeiro, a baixa foi de 12,3%. Além disso, apesar de verificarmos ainda um bom remanescente da safra 22/23, tal estoque da variedade vem sendo direcionado, majoritariamente, às indústrias de torrado e moído, para consumo interno”, explica.
Em relação à receita cambial, o declínio reflete exatamente o cenário das cotações internacionais, que entraram em rota negativa desde outubro do ano passado. “Além de exportarmos menos em volume, também tivemos um preço médio menor por saca em janeiro, que foi de US$ 215,56, ou 1,2% a menos do que os US$ 218,18 por saca aferido em janeiro de 2022”, compara o presidente do Cecafé.
PRINCIPAIS DESTINOS
Em janeiro de 2023, os Estados Unidos mantiveram o posto de principal comprador dos cafés do Brasil, ao adquirirem 512.402 sacas, volume 30,7% inferior ao registrado no mesmo período de 2022. Esse montante equivale a 18% dos embarques totais brasileiros no mês passado.
A Alemanha, com representatividade de 15,6%, importou 442.430 sacas (-19,5%) e ocupou o segundo lugar no ranking. Na sequência, vêm Itália, com a compra de 193.671 sacas (-3,4%); Bélgica, com 175.790 sacas (-50,7%); e Japão, com a aquisição de 144.649 sacas (-19,7%).
Entre os destaques positivos, aparecem as exportações dos cafés do Brasil para França e Holanda (Países Baixos). Sétimos entre os principais destinos do produto em janeiro, os franceses adquiriram 91.317 sacas, o que representa um substancial incremento de 179,6% frente ao volume adquirido no primeiro mês de 2022. Os holandeses vêm na sequência, elevando suas importações em 33,2%, para 83.189 sacas.
PORTOS
O complexo marítimo de Santos (SP) foi o principal exportador dos cafés do Brasil em janeiro de 2023, com a remessa de 2,275 milhões de sacas ao exterior, o que equivale a 80% do total. Na sequência, vêm os portos do Rio de Janeiro, que respondem por 16,3% dos embarques ao remeterem 463.910 sacas, e Paranaguá (PR), com a exportação de 36.031 sacas e representatividade de 1,3%.
TIPOS DE CAFÉ
O café arábica foi o mais exportado em janeiro deste ano, com o despacho de 2,432 milhões de sacas ao exterior, o que corresponde a 85,6% do total. O segmento do solúvel teve 320.287 sacas embarcadas, com representatividade de 11,3%, seguido pela variedade canéfora (robusta + conilon), com 87.584 sacas (3,1%) e pelo produto torrado e torrado e moído, com 2.219 sacas (0,1%).
CAFÉS DIFERENCIADOS
Os cafés diferenciados, que possuem qualidade superior ou alguma certificação de práticas sustentáveis, responderam por 19,8% das exportações totais brasileiras do produto em janeiro de 2023, chegando a 563.945 sacas. Esse montante representa alta de 0,7% na comparação com as 559.851 sacas embarcadas pelo país no primeiro mês do ano passado.
O preço médio do produto diferenciado ficou em US$ 261,19 por saca, proporcionando uma receita de US$ 147,3 milhões em janeiro, o que corresponde a 24% do obtido com os embarques totais. No comparativo anual, o valor é 10% menor do que o apurado em idêntico período de 2022.
No ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados no mês passado, os Estados Unidos estão na ponta, com a importação de 139.511 sacas, o equivalente a 24,6% do total desse tipo de produto exportado. Na sequência, vêm Alemanha, com 109.792 sacas e representatividade de 19,4%; Bélgica, com 58.799 sacas (10,4%); Reino Unido, com 29.371 sacas (5,2%); e Itália, com 27.739 sacas (4,9%).
ANO SAFRA
No acumulado dos sete primeiros meses da safra 2022/23, os embarques brasileiros de café alcançaram 22,227 milhões de sacas, números que implicam queda de 3,8% na comparação com os 23,096 milhões de sacas exportados de julho de 2021 a janeiro de 2022.
Esse volume remetido ao exterior rendeu um total de US$ 5,197 bilhões ao Brasil nesse intervalo, apresentando crescimento de 23% em receita cambial. “Esse desempenho no faturamento reflete as cotações mais elevadas entre julho e outubro do ano passado, as quais ainda mantém essa alta sobre a temporada cafeeira anterior”, conclui o presidente do Cecafé.
O relatório completo das exportações dos cafés do Brasil, até o fim de janeiro de 2023, está disponível no site do Cecafé: https://www.cecafe.com.br/.
SOBRE O CECAFÉ
Fundado em 1999, o Cecafé representa e promove ativamente o desenvolvimento do setor exportador de café no âmbito nacional e internacional. A entidade oferece suporte às operações do segmento por meio do intercâmbio de inteligência de dados, ações estratégicas e jurídicas, além de projetos de cidadania e responsabilidade socioambiental. Atualmente, possui 118 associados, entre exportadores de café, produtores, associações e cooperativas no Brasil, correspondendo a 96% dos agentes desse mercado no país.
Fonte: Gestão de Comunicação do Cecafé