Em um país famoso por seu chá, o Japão está cada vez mais se voltando ao café como uma solução rápida para ajudar a aliviar a rotina diária. Cafés hipster estão surgindo em todos os locais, oferecendo bebidas cuidadosamente preparadas para agradar até os mais viciados em cafeína.
O Japão importa mais de 430.000 toneladas de café por ano – atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha – e tem alguns dos melhores baristas do mundo.
“O fato de que a cultura do chá já exista no Japão ajudou a cultivar uma apreciação do café como um item de luxo”, disse Miki Suzuki, que recentemente foi premiada como barista campeã do Japão. “Os japoneses têm um paladar extremamente sensível, de forma que podem apreciar diferenças sutis no sabor”, disse ela.
Suzuki impressionou os juízes com a bebida com adição de nitrogênio – uma técnica frequentemente usada por cervejarias artesanais para obter uma espuma mais rica – e que também dá um tom delicado cítrico. Para dar mais estilo à bebida, ela serviu em taças de champanhe.
“Na verdade, eu nem mesmo gostava de café no começo. Agora, meu objetivo é me tornar a primeira barista mulher a vencer o título mundial”.
O Japão tem um pedigree fino no World Barista Championship e Suzuki quer seguir os passos do vencedor de 2014, Hidenori Izaki, na competição de Seul no ano que vem e se sair melhor do que Yoshikazu Iwase, campeão de 2016.
Tanto o talento de Suzuki, como o do três vezes campeão nacional, Takayuki Ishitani, estão com sua criatividade tornando o café um produto cool.
Ele disse que os baristas estão tornando o café “sexy”. “É parte do trabalho do barista encantar o cliente e ser suave, como um barman. O desempenho é parte de criar uma atmosfera que agrade o cliente”.
Ishitani serviu uma porção borbulhante de café misturado com gelo seco, fragrância de ervas e mel de laranja no Japan Barista Championship, mas insiste que é um “buscador sem fim” da xícara perfeita de café.
“Tudo diz respeito à perseverança”, disse ele. “Os japoneses prestam atenção meticulosa aos detalhes. Você não está competindo contra outros baristas, a batalha é contra você mesmo”.
A primeira evidência documentada de chá no Japão data do século IX, quando monges budistas trouxeram da China. Entretanto, o café só se tornou popular no Japão após a Segunda Guerra Mundial, quando o país retomou as importações.
A Starbucks agora tem mais de mil lojas no Japão, enquanto café enlatado e engarrafado vendido em vending machines ou lojas de conveniência tem sido a opção barata favorita dos trabalhadores ocupados.
As vendas de café ultrapassaram as de chá verde e ganharam mais visibilidade com baristas que lidam com olatte art surgindo em Tóquio e em outros locais do Japão produzindo bebidas que poderiam ser confundidas com bebidas de Nova Iorque ou Londres.
“Definitivamente, há um intenso interesse nas minúcias do processo de preparo do café no Japão”, disse o americano, Scott Conary, um dos juízes do Japan Barista Championship. “Você está vendo mais cafés com melhores habilidades e melhores cafés”.
Enquanto a cerimônia do chá altamente ritualizada é cada vez mais vista como um remanescente de épocas antigas, Ishitani disse que não leva sua arte tão a sério. “Eu não acho que seja necessário beber café com a mesma reverência com que bebemos chá. É apenas algo que está lá para ajudar no fluxo das conversas”, disse ele.
Japão aumenta demanda por café gourmet
20/10/2016 00h00 - Atualizado em 08/05/2017 18h12